Em boa verdade não temos praticamente agricultura. Daí resulta importarmos cerca de 80 por cento do que precisamos para comer.
A indústria está hoje reduzida a algumas franjas, em larga medida desactualizadas e desapetrechadas, da pequena transformação e de alguma construção civil.
O sector dos serviços é, na sua maior parte, de baixa qualificação - com grande predomínio do turismo de pouca qualidade e dos "call centers".
Apesar de termos uma excelente posição geoestratégica e a maior Zona Económica Exclusiva de toda a União Europeia, não temos portos capazes, nem pescas, nem marinha mercante.
Sendo um país sem economia - no qual os sucessivos governos aceitaram receber da União Europeia muitos milhões a troco da destruição da sua própria capacidade produtiva -, somos agora também um país sem emprego. Existem mais de 590 desempregados, segundo o INE - embora o desemprego real ultrapasse já os 710 mil cidadãos.
Ainda por cima querem agora que paguemos uma dívida pública, externa e interna, que o povo trabalhador português não contraiu (e cujo pagamento deve pura e simplesmente repudiar!).
Apesar de tudo isto, o governo actual tem vindo insistentemente a apresentar cada dado estatístico que vê a luz do dia como um «sinal positivo» para o futuro do país. O desemprego? Esse «estabilizou»… Incêndios?... Bem, o combate aos mesmos decorre com «maior grau de eficácia»… A economia? Essa «cresceu mais do que o previsto pelo governo»…
Ainda ontem o Primeiro-ministro fez isso, dar-nos “boas notícias", ao visitar duas «empresas de sucesso», uma em Vale de Cambra e outra em Vila da Feira.
A particularidade destas visitas reside no facto de ambas terem dado azo a uma espécie de conferências de imprensa feitas no interior das próprias empresas. Com o beneplácito dos patrões, é claro (o que é lá com eles).
Mas... e então os trabalhadores? Onde estavam? Tinham ido almoçar? Tinham ido lanchar? Já tinham entretanto saído do trabalho? Se estavam lá a assistir, ou a trabalhar, o que fizeram? Bateram palmas? Vaiaram os palestrantes? Fizeram voar chaves inglesas e porcas em direcção à cabeça do Engº. Sócrates, mas o acto foi censurado pelas televisões, pelas rádios e pelos jornais?
Haverá algum jornalista à face deste país sem leme nem futuro que me saiba explicar onde estavam os trabalhadores daquelas duas empresas e qual foi a sua reacção perante aquele acto de propaganda (suponho que à borla, ou seja, sem aluguer de espaço) do governo? Ou os senhores jornalistas só lá foram para cobrir a manobra e mais nada?...
Uma coisa é certa: se os trabalhadores estavam lá quando as operações de publicidade ocorreram e nada fizeram, então algo vai de mal a pior neste país!
Estou indignado? ESTOU!!!