17
Jun 12

 

 

*   *   *

 

RELATO

 

Quando os fascistas

julgavam morta a verdade,

fizeram na Praça da Ópera em Berlim

uma fogueira de livros

para queimarem também o espírito.

 

À mesma hora, porém,

estava sentado num quarto em frente

um homem a trabalhar.

Só às vezes

quando as hordas na dança à volta do fogo

faziam mais balbúrdia, se punha à escuta, receoso,

levantava os olhos irritado.

Depois depressa baixava a cabeça

e continuava a escrever.

Estava a redigir a «Bandeira Rubra».

 

 

                             HEINZ KAHLAU (Alemanha, 1931-2012)

 

 

(do livro «Poesia da R.D.A. - breve antologia» - organização, selecção, tradução, introdução e notas de Rainer Bettermann e Álvaro Pina - Livros Horizonte, 1980)

 

 

 

publicado por flordocardo às 02:28
tags:

publicado por flordocardo às 02:28
tags:

 

 

 

*   *   *

 

(Amor, é um arder, que se não sente)

 

 

Amor, é um arder, que se não sente;

É ferida que dói, e não tem cura;

É febre, que no peito faz secura;

É mal, que as forças tira de repente.

 

É fogo, que consome ocultamente;

É dor, que mortifica a Criatura;

É ânsia a mais cruel, e a mais impura;

E frágua, que devora o fogo ardente.

 

É um triste penar entre lamentos;

É um não acabar sempre penando;

É um andar metido em mil tormentos.

 

É suspiros lançar de quando, em quando;

E quem me causa eternos sentimentos;

É quem me mata, e vida me está dando.

 

                                                                  
                                          Abade de Jazente
(1719-1789)

 

(do livro «366 poemas que falam de amor» - antologia organizada por Vasco Graça Moura, Quetzal Ed., Lisboa/2004)

 

publicado por flordocardo às 00:37
tags:

Junho 2012
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2

3
4
5
6
7
8
9

16

18

26
28


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO