Não sei, Jorge, se era este o teu destino; ou se era isto que almejavas sequer: regressar ao chão desta pátria «vil e canalha, e mesquinha...» («tirando o povo e uns raros»).
Não sei se querias passar teus ossos por uma basílica, discursos, polícias, carros negros. Duvido seriamente.
Por lá, pela Califórnia (e apesar dos tenebrosos fogos que a têm devorado), sempre ao menos podiamos sonhar-te - desesperado, mas..., em repouso; podiamos eventualmente empreender uma viagem para te lembrar, rever e falar contigo, Jorge; uma jornada sem aparato algum, mas que revelasse que daqui para lá a distância se encurtava graças a ti, ou seja, ao que de ti e de nós nos deixaste escrito. Podiamos sonhar... Podiamos continuar - vendo-te sem te ver - a imaginar-te duro e terno, indomável, desesperado, sincero, acutilante e corajoso. Agora é mais difícil, Jorge. Não sei bem explicar a razão, mas é.
Agora (tu não saberás) os canalhas multiplicaram-se por aqui em grande escala. E há poucos como tu para combatê-los. Mas combate-se!
Descansas há dois dias nos Prazeres. Estás feliz, Jorge?
Pela tua nova morada eu passarei um dia destes. Talvez me possas, então, dar a resposta.