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Abr 09

 

 

Vai para um ano e tal que comprei o CD de Aldina Duarte intitulado «Crua».

 

Trata-se de Fado. Falamos de 12 fados com letras de João Monge, sobre músicas do fado tradicional. Fados que, na voz de Aldina Duarte, primeiro se estranham e depois se entranham - como diria Fernando Pessoa.

O fado 7, «Flor do Cardo», por circunstâncias 99% inexplicáveis, entranhou-se-me fundo.

Quando imaginei criar um blogue, «Flor do Cardo» foi desde logo um dos títulos que, entre outros, me ocorreu. E acabou por persistir.

Até por… …

 

 

A flor do cardo a que me refiro (cynara cardunculus) eclode no final da Primavera e é colhida nos meses de Junho e Julho. Posta a secar, é passada depois por água quente. A espécie de “chá” daí resultante serve para fazer o coalho do leite, em queijos tão saborosos como o queijo da Serra da Estrela, o queijo de Serpa ou o queijo de Azeitão. A flor desta espécie de alcachofra é, assim, fundamental na queijaria tradicional portuguesa, mas também na de  outros países do Mediterrâneo.

 

A flor do cardo contém uma enzima denominada ciprozina. É esta que provoca a coagulação do leite.

O cardo nasce expontaneamente.

Eis a explicação que vos devia. A voz de Aldina, a poesia de Monge, a cynara cardunculus, a flor (e os espinhos), a expontaneidade, a ciprozina, o leite e o queijo tradicional na perfeição se conjugaram neste peito para dar à luz este blogue nascido em Abril. Só falta o pão e o vinho...

Sendo que… «O que faz falta é um 26 de Abril.»
Quem tal afirmou foi Eduardo Lourenço, a propósito do 25 de Abril, ao «Diário de Notícias».

Neste «um», indefinido por excelência, é que está o busílis da questão.

Talvez seja imperioso trocar os cravos pelos cardos

 

Como vêem, isto anda tudo ligado!

 

publicado por flordocardo às 17:28

 

 

Apanha-me na cama, ouvindo telefonia. Juro!
 
É madrugada de quinta-feira e apercebo-me, aí pelas 3 horas da manhã, de que algo de anormal se passa: música estranha na rádio; mas adormeço. Pelas 6.30 horas oiço de novo a rádio. As tropas estão na rua.
 
Estranho ninguém me telefonar. Todavia, perante os apelos radiofónicos à «calma» e a que se fique «em casa», resolvo vir para a rua (que foi exactamente o que a maioria dos portugueses fez, e bem)!
 
Chego ao Cais do Sodré, em Lisboa, pelas 8.30 ou 9 horas. A situação é notoriamente tensa. Estou na Ribeira das Naus. Tropas no largo do Corpo Santo, bem próximo de onde estou, e tropas no Terreiro do Paço. Ignoro quem são os autores do golpe.
 
Até que vem alguém do lado do Terreiro do Paço, levantando um pano branco. Um dos militares do lado onde me encontro recebe ordens para disparar e dispara uma rajada curta de metralhadora. Dispara meio para o ar e vejo os projecteis embater no torreão sul das arcadas, lá ao longe – o que irrita solenemente o mandante. Do outro lado não há resposta aos tiros.
 
Fico com a nítida sensação de que estou do lado errado... Tento sair dali, mas todos os caminhos me surgem barrados por militares, da Rua do Arsenal à Rua do Alecrim. Passadas mais de duas horas naquele impasse (não havia telemóveis, se bem se lembram) resolvo voltar para casa e tentar seguir os acontecimentos pela rádio ou pela televisão.
 
Para mim, o 25 de Abril de Abril começa realmente no(s) dia(s) seguinte(s), ao voltar a Lisboa, ao reatar contactos com outros camaradas, colegas e amigos, ao envolver-me em manifestações e na preparação do 1º. de Maio.
 

O povo está na rua! Um golpe militar transforma-se em revolução!

 

Continuem por aí que eu volto já.

publicado por flordocardo às 12:37

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