Almas de outro mundo (re)descobriram agora que a memorização das coisas (tabuada, por exemplo) ajuda ao desenvolvimento do cérebro e à aprendizagem; que a memorização «é uma condição essencial para um estudo eficaz e para a obtenção de resultados positivos» (ver site da Universidade de Évora - Núcleo de Apoio ao Estudante).
É óbvio que a memorização não é tudo. Mas esta lembradura, cada vez mais insistentemente feita por professores e psicólogos do ensino, não deixa de nos dar que pensar…
Em boa verdade, como já em tempos referiu a jornalista Helena Matos, no jornal «Público», «a memorização tornou-se uma expressão maldita». Ou seja: ninguém precisa de memorizar nada, pois memorizar não constitui uma forma de aprender; o Divino Espírito Santo (salvo seja!) que há em cada um de nós, trata de tudo e de forma «apelativa» (termo muito em voga - como se não existisse coisa mais apelativa do que a inteligência, a capacidade de ter opinião e de a expressar de modo fluente, aberto e convincente)…
Eis uma das razões pela qual fico sempre «de pé atrás» sempre que se decide prolongar o período da escolaridade obrigatória (como, aliás, acaba de implementar o Governo de José Sócrates)…
Além do mais é urgente dar resposta a esta pergunta: estudar para (vir a fazer o) quê? Para trabalhar num call center? Para ingressar nas Forças Armadas? Para ir ao biscate, ou a tempo inteiro, para uma empresa de segurança? Para ir ensinar em qualquer lado o desastroso (em múltiplos sentidos) «acordo ortográfico», dito «da língua portuguesa»?...
O ensino, a educação, a cultura e a ciência são ferramentas fundamentais para o progresso. Mas que país temos e que país queremos? Que estratégia seguir? Não seria melhor discutir isto antes?!
Tenho para mim que os portugueses com poder sofrem de uma terrível doença: fazer leis, diplomas, portarias e regulamentos, sem nunca lhes discutirem os alicerces. Os resultados estão à vista…