Em função dos resultados das eleições europeias do passado domingo, os quais representaram uma profunda derrota para o PS e o governo do engº. Sócrates, jornalistas, politólogos e comentadores andam agora muito preocupados com o problema da «governabilidade»…
Com base nesta preocupação, já aparecem vozes a dizer que o governo (e o PS) tem que «virar à esquerda»…
Errado! Há outra solução no horizonte para a «governabilidade» não ser beliscada!
Querem um exemplo?
Falemos de Trabalho – o que implica falar do novo Código do Trabalho, aprovado na generalidade no Parlamento em 18 de Setembro do ano passado.
Podia perorar aqui longo tempo sobre aquele documento, mas prefiro citar alguém que sobre ele se pronunciou lapidarmente: Francisco Van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (entrevista ao «Jornal de Negócios» de 16 de Julho último).
1ª. Citação – sobre a caducidade dos CCTs: «A caducidade dos contratos colectivos e a possibilidade dada às empresas de negociar com os trabalhadores condições menos favoráveis, das que estão no próprio Código, será extremamente benéfico para as empresas. De tal modo que se não utilizarmos estes mecanismos, este acordo terá sido um exercício fútil.»
2ª. Citação – sobre o «banco de trabalho de 200 horas anuais»: «No fundo é para acabar com o conceito de horas extraordinárias. Trabalhar mais 2 horas além do horário normal, passa a ser regular. O trabalho extra deixa de ser pago à percentagem e depois há a possibilidade de negociação individual dos horários concentrados (…) Foi uma vitória nossa sem dúvida nenhuma».
3ª. Citação – sobre o «combate à precaridade»: «Embora haja uma diferença de 4% entre o pessoal a prazo e no quadro, penso que as empresas vão preferir manter o pessoal a prazo e pagar mais à Segurança Social.»
4ª. Citação – se um governo de direita não teria feito melhor: «Não, os governos de direita são mais tímidos, no que respeita às relações de trabalho. Os governos de esquerda são mais ousados!»
Reparem que estas afirmações foram proferidas antes da crise estalar em todo o seu esplendor.
Ora, em função de tão sábias palavras do sr. FVZ, torna-se patente que o problema da futura «governabilidade» do país é meramente virtual. O PS pode perfeitamente contar com a CIP, caso não obtenha maioria absoluta nas próximas eleições legislativas. O PSD, em idêntica eventualidade, idem.
Ademais, resta sempre a hipótese de uma coligação, assumida ou não, com o BE ou com o MEP (gente “cheia” de ideias e disposta a mistificações de toda a ordem). Qualquer destas hipóteses - BE ou MEP - só implica planar, ir para cima; não precisa de viragens à esquerda ou à direita (o que constitui uma vantagem óbvia).
«Ingovernabilidade»? Um falso problema!!!
E eu que já vos tinha prometido falar do acordo ortográfico e do sr. Chora…
Logo que possa, tal farei. Não percam a esperança!