12
Jun 09

 

 
 
Extracto de uma crónica de João Gobern na RDP - Antena 1
(11.04.2008)
 
«Pela minha parte, dispenso o Acordo, a tutela, a farda cinzenta que se quer fazer vestir a um património que, até agora, não regista quaisquer prejuízos por causa do colorido. E quanto a factos, será indiscutivelmente triste o dia em que me cortarem este “cê”: um fato consumado é apenas algo que se compra e vende nas lojas de pronto-a-vestir.»
 
Obviamente que cito por concordar.
 
Agora que passou o 10 de Junho, importa, contra toda a sorte de mistificações, dizer algumas verdades a respeito do novo Acordo Ortográfico.
 
Eu começaria por dizer que com a língua portuguesa não se deve brincar. Desde logo por ser perigoso brincar com a cultura de um povo que tem dado ao mundo provas maiores de criatividade na mesma. Pode-se “brincar” com a mesma para a elevar, mas nunca para colocar em causa a sua forma culta - a qual levou séculos a constituir-se, a cimentar-se e a impor-se. Acresce (por isto mesmo) ser perigoso mexer-se em coisas muito fixas; por norma, correm o risco de se desmoronarem...
 
Porém, os “ilustres” produtores do novo Acordo Ortográfico não têm feito outra coisa que não seja brincar com a língua portuguesa, querendo transformar a brincadeira em norma, ou seja, o folguedo em tragédia. Actos destes sucedem com frequência a quem finge «amar a cultura»; mas também a quem tem por princípio basilar vergar sempre a cerviz a interesses vários… Eu diria mesmo que vivem disso!
 
Para tais “ilustrados”, os outros - os que se opõem ao Acordo -, é que são os ignorantes; ignorantes que não compreendem o alcance da coisa... E qual é ele?
 
Desde logo, levar a língua portuguesa a mais gente e a mais mundo, mediante a unificação da sua ortografia. Portanto, haveria mais que uma língua portuguesa escrita. Não há!
 
Portuguesa só há uma. Desde logo porque o Brasil, Estado soberano (e por motivos que só ele, enquanto tal, saberá de ciência certa), nunca chegou a subscrever os dois anteriores acordos ortográficos (realidade que agora sintomaticamente se omite). E, como se sabe, continuou a desenvolver-se e a criar-se muita e boa literatura portuguesa, brasileira e de outras nacionalidades que tomaram o português como língua. Sucede porém que os “ilustrados” pacóvios da nossa praça não só omitem tais verdades como vão ao ponto de salientar que o Brasil entrará em breve para o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, pelo que... (*)
 
Chegados a este ponto as coisas começam a ficar claríssimas, transparentes mesmo; elas perdem o seu carácter pseudo-científico, a sua tecnicidade, a bonomia das suas «boas intenções», para assumirem claramente o seu real aspecto: o aspecto político (e, logo, também económico)!
 
Então, olha-se e lê-se de novo o dito Acordo e o que nos sai pela proa é uma espécie de língua escrita em versão transgénica, com paladares optativamente adaptados às diversas nacionalidades que a falam e usam. Coisa “moderna”… Tanto ou tão pouco “moderna” que até o Bloco de Esquerda a deixou passar no Parlamento!...
 
Tanta «unificação» para uma «mais ampla difusão», para afinal ficarmos com resmas de «variantes», mandando às ortigas - acima de tudo - a etimologia de palavras que são nossas… Isto é que é a defesa da «unidade da língua»?!
 
Ficaremos é a linguajar até deixarmos de saber escrever, é o que é.
 
Sejamos claros: por mais voltas que se dê, a verdade é que nos pretendem impor uma língua escrita à imagem da língua falada (**). Ora não há língua escrita que resista a semelhante estupidez, como é fácil de perceber. Alguém concebe o minhoto, o lisboeta, o brasileiro do Ceará, o moçambicano de Nampula, etc., escrevendo a língua portuguesa da mesma forma como a falam?!...
           
Ora sucede que este “progresso”, ainda por cima, é-nos atirado aos costados com a acusação de sermos nós, «os do contra», os «conservadores»… Progressistas e revolucionários são os Malacas Casteleiros, os Sócrates, os Luíses Amados, os Pintos Ribeiros, os Carlos Reis, os Cavacos Silvas…; os outros, como Vasco Graça Moura, Vitorino Magalhães Godinho, Eduardo Lourenço, Mário Cláudio, Maria Alzira Seixo, Vítor Manuel Aguiar e Silva, Gastão Cruz, Pedro Tamen, Manuela Magno, Maria do Rosário Pedreira, Carlos Bessa, Amadeu Baptista, Arnaldo Matos - entre milhares de outros, pois a petição on-line contra o dito Acordo já ultrapassou as 115 mil assinaturas -, estes, os outros, seriam um bando de retrógados de direita, nacionalistas e até mesmo de chauvinistas!...
 
Chantagens destas devem ser firmemente desmascaradas e combatidas. Sem cedências!
 
Camões, tal faria por certo.
 
Talvez ainda volte ao assunto, pois ele contém muitas perspectivas pelas quais pode ser abordado - e eu limitei-me a destacar as que julgo mais pertinentes.
 
(*) - Convirá recordar que há 10 milhões de portugueses, enquanto os brasileiros são para aí uns 190 milhões - o que, pelos vistos, justificará tudo… É a ditadura dos números (e não quero com isto afirmar que, no caso, as culpas são brasileiras)!
 
(**) - O Dr. Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta e fervoroso defensor do «Acordo Ortográfico», na qualidade de «convidado especial» de uma audição parlamentar sobre o assunto, realizada no ano passado, confessou que o que estava em causa era «aproximar o modo como escrevemos do modo como falamos». Como outros, ele deve considerar que tal desiderato, a ser concretizado, irá «facilitar o ensino do Português»… Digam lá se não há burros mais inteligentes do que este?...

 

publicado por flordocardo às 16:41

09
Jun 09

 

 

Em função dos resultados das eleições europeias do passado domingo, os quais representaram uma profunda derrota para o PS e o governo do engº. Sócrates, jornalistas, politólogos e comentadores andam agora muito preocupados com o problema da «governabilidade»…

 
Com base nesta preocupação, já aparecem vozes a dizer que o governo (e o PS) tem que «virar à esquerda»…
 
Errado! Há outra solução no horizonte para a «governabilidade» não ser beliscada!
 
Querem um exemplo?
 
Falemos de Trabalho – o que implica falar do novo Código do Trabalho, aprovado na generalidade no Parlamento em 18 de Setembro do ano passado.
 
Podia perorar aqui longo tempo sobre aquele documento, mas prefiro citar alguém que sobre ele se pronunciou lapidarmente: Francisco Van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (entrevista ao «Jornal de Negócios» de 16 de Julho último).
 
1ª. Citação – sobre a caducidade dos CCTs: «A caducidade dos contratos colectivos e a possibilidade dada às empresas de negociar com os trabalhadores condições menos favoráveis, das que estão no próprio Código, será extremamente benéfico para as empresas. De tal modo que se não utilizarmos estes mecanismos, este acordo terá sido um exercício fútil.»
 
2ª. Citação – sobre o «banco de trabalho de 200 horas anuais»: «No fundo é para acabar com o conceito de horas extraordinárias. Trabalhar mais 2 horas além do horário normal, passa a ser regular. O trabalho extra deixa de ser pago à percentagem e depois há a possibilidade de negociação individual dos horários concentrados (…) Foi uma vitória nossa sem dúvida nenhuma».
 
3ª. Citação – sobre o «combate à precaridade»: «Embora haja uma diferença de 4% entre o pessoal a prazo e no quadro, penso que as empresas vão preferir manter o pessoal a prazo e pagar mais à Segurança Social.»
 
4ª. Citação – se um governo de direita não teria feito melhor: «Não, os governos de direita são mais tímidos, no que respeita às relações de trabalho. Os governos de esquerda são mais ousados!»
 
Reparem que estas afirmações foram proferidas antes da crise estalar em todo o seu esplendor.
 
Ora, em função de tão sábias palavras do sr. FVZ, torna-se patente que o problema da futura «governabilidade» do país é meramente virtual. O PS pode perfeitamente contar com a CIP, caso não obtenha maioria absoluta nas próximas eleições legislativas. O PSD, em idêntica eventualidade, idem.
 
Ademais, resta sempre a hipótese de uma coligação, assumida ou não, com o BE ou com o MEP (gente “cheia” de ideias e disposta a mistificações de toda a ordem). Qualquer destas hipóteses - BE ou MEP - só implica planar, ir para cima; não precisa de viragens à esquerda ou à direita (o que constitui uma vantagem óbvia).
 
«Ingovernabilidade»? Um falso problema!!!
 
E eu que já vos tinha prometido falar do acordo ortográfico e do sr. Chora…
 
Logo que possa, tal farei. Não percam a esperança!
publicado por flordocardo às 14:53
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02
Jun 09

 

 

 

Tenho tanta coisa para vos contar...

 

Mas começemos por aqui, por hoje mesmo.

 

Fui abordado pelas 14 horas, na Rua Ivens, por um jovem que, de microfone na mão, me perguntou:«O que é para si ser português?».

 

Momentaneamente hesitei... Até reparar que o microfone tinha inscrito «RR». OK.

 

«Ser português é defender a língua portuguesa. Dito isto, como deve compreender, eu sou daqueles que estou contra o novo acordo ortográfico».

 

O registo lá ficou (ainda que eu não saiba para que efeitos concretos).

 

Agora, uma coisa é certa: eu voltarei ao assunto (e não só).

 

É provável que vos venha a falar em seguida, antes de dito «acordo», de uma entrevista prestada por um senhor chamado António Chora à RTP 2. É que a coisa de de suprema actualidade e interesse!

 

publicado por flordocardo às 17:22

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