Os resultados das eleições legislativas/2009 estão apurados quanto ao essencial. O circo eleitoral começou a ser desmontado cautelosamente.
Mas a análise dos números respeitantes aos resultados eleitorais constitui uma missão terrível, surreal. Veja-se... O vencedor das eleições - o PS - foi o grande perdedor. Na verdade, o partido do engº. Sócrates perdeu mais de 505 mil votos e a maioria absoluta (elegeu menos 24 deputados).
Embora pecando por escasso, tal resultado foi positivo, tendo em vista os compromissos com o eleitorado que o PS assumiu nas legislativas de 2005, e o facto de tal partido não ter cumprido nenhum daqueles compromissos (tendo, aliás, feito exactamente o contrário do prometido).
O PSD só conseguiu captar uma pequena parte do descontentamento do eleitorado face ao governo PS. É a crise do «bloco central»?...
Quanto aos demais partidos e coligações, pode-se dizer que todos subiram, quer em percentagem, quer em número de votos expressos. Mas será de destacar o PCTP/MRPP, partido que, não tendo conseguido eleger deputados, superou todavia a barreira dos 50 mil votos a nível nacional, pelo que passará a dispor, de acordo com a legislação actual, de subvenção estatal para a sua actividade.
Os resultados do BE (claramente obtidos à custa do PS e de franjas da CDU e mesmo do PSD) não espantam. Até ficaram aquém do esperado por Louçã... Os do CDS-PP (conseguidos, certamente, à custa dos «social-democratas» e dos tradicionalmente abstencionistas), mostram que Portas está agora a bater à porta do PSD, perguntando: «Precisam para aí de um líder?»
Mas, desmontado o circo, o que é que se segue? A realidade do país mudou de ontem para hoje? Não, não mudou.
Temos por debelar uma enorme dívida externa; temos uma taxa de desemprego que vai continuar a subir de forma galopante; temos um sistema de Saúde e um sistema de Justiça que se encontram de rastos; temos uma Segurança Social que agoniza; temos uma das maiores cargas fiscais da Europa a 27 - bem como uma das mais aberrantes diferenças de nível de vida entre ricos e pobres.
A verdade é que a atitude das forças políticas nestas eleições pareceu ignorar esta realidade e que a mesma se insere numa crise global do capitalismo da qual não existe uma memória relativamente próxima no tempo.
A campanha eleitoral parece ter decorrido num quadro político virtual, fora da realidade nacional e internacional.
Ou dito de outra maneira: onde está a Esquerda? Ainda faz sentido falar de Esquerda e Direita depois desta campanha e destes resultados eleitorais?
Onde está o outro caminho? Onde está a alternativa ideológica, política e económica ao actual estado pantanoso das coisas?
Andam os politólogos preocupados com a possível «ingovernabilidade» do país; em saber que executivo vai resultar das eleições de domingo…
Deixemo-nos disso. Agora que o circo está a ser desmontado, o importante é ter respostas políticas para a crise, respostas dos explorados contra os exploradores que, por aquela - como sempre -, são responsáveis.
Quem der tais respostas será a ESQUERDA!
Isto não vai com panos quentes!