31
Out 09

 

Hoje, eis outro dos poemas de António Ramos Rosa, inserto em «Pátria Soberana seguido de Nova Ficção».
 
* *
 
Pátria é uma palavra que podemos dizer
sem que a maioria do povo a reconheça
Ela não pertence ao léxico das palavras comuns
e se os políticos a referem é quase sempre com a violência
de uma retórica vã
Mas seja qual for a forma e substância dos seus símbolos
bronze ou pedra bandeira chama música ou palavra
nós sabemos que ela está viva e vitoriosa
sobre todos os obstáculos e desastres
grávida de um futuro de comum liberdade
 
Se a pátria é uma herança ela é também o espaço que está à nossa
[frente
em que temos de projectar as suas dinâmicas linhas
em que vibrará o ritmo do nosso sangue e da nossa respiração
porque ela será a realidade do que em nós é a irrealidade do nosso ideal

 

 

 

publicado por flordocardo às 19:56
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30
Out 09

Do mesmo livro de António Ramos Rosa, antes referido, um outro poema.

  

 

 

 

 

 

*  *

 

São estes os meus semelhantes

e decerto são porque respiramos a mesma poeira

mas para eles ela é o único espaço de existência

e para mim o que deverá ser purificado

por um vento que ignoro de onde virá

 

Passamos uns pelos outros

em anónima coexistência

em passos vãos que sendo se equivalem a não serem

Só os amigos quebram esta monótona identidade

com acenos de uma comunidade viva

que não somos

 

Chamamos a esta coexistência sociedade

que não é mais do que ter perdido a pátria

a sua fisionomia sagrada as suas maternas coxas

Oh em que muralha está a estatura ubíqua

desse seio de água e desse vento regeneradores

que eram a presença viva da vida unificada?

 

publicado por flordocardo às 18:09
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29
Out 09

 

«Pátria Soberana seguido de Nova Ficção» é um livro de António Ramos Rosa publicado em Outubro de 1999 pela «Quasi Edições». Devo tê-lo comprado e lido aí por volta de Maio do ano seguinte; e voltei, agora, casualmente (como gosto de fazer com a poesia), a pegar nele.
 
Os poemas contidos nesta obra pareceram-me muito actuais na altura; agora, parecem-me ainda mais actuais e, acima de tudo, premonitórios.
 
Deixo-vos hoje um dos poemas deste livro. Mas haverá mais em breve!
 
* *
 
Chamo pátria de profundas veias
a essa relação viva entre os homens se ela houvesse
e não esta condição de anónima indiferença
e de vaga identidade flutuante
sem cúpula e sem os templos brancos
com jardins de um ócio voluptuoso
É por isso que estamos condenados
à solidão de não pertencermos à dilatada força
que constitui um universo e projecta um horizonte
de humanidade viva em floração unânime
Somos apenas cúmplices da nossa inabilidade
e dos ornamentos com que a revestimos
para parecer que somos e ser o que parecemos
Quem escreve procura abrir um espaço numa muralha
tão opaca mas vaga e cinzenta
que esse espaço imaginado de branca identidade
não é mais que um aceno à possível liberdade
para além da sua glória profanada
publicado por flordocardo às 01:51
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28
Out 09

25 graus em Lisboa e 27 no Porto.

 

Havendo governo, da realidade não o há ainda. As cadeiras estão ainda em movimento, para aqui e para ali (Secretários de Estado, Chefes de Gabinete, Assessores, motoristas...).

 

Tempo propício a despedir com serenidade, como se está a constatar (Quimonda, Delphi, etc.). Entre castanhas, água-pé e algum sol...

 

Entretanto os agentes da GNR começaram a ser vacinados contra a gripe A. E a Família Real espanhola ofereceu gentilmente de comer a Cavaco Silva e sua esposa...

 

Eis, em suma, um país recomendável, onde dá gosto viver!!!

 

Uns chamarão a isto um arremedo de poema; outros, uma crónica breve.

 

Decidam-se e informem-me!

publicado por flordocardo às 14:37

Foi há instantes. Assisti a uma coisa nunca vista (exceptuando no cinema): a uma serenata.

 

Eram para aí uns 7 magníficos cantando e tocando.

 

Acreditem que me comovi e liguei logo para a minha Melra, a qual ainda conseguiu escutar uns acordes da cantoria.

 

Fiquei a congeminar uma cena igual só para ela. E isto não me sai da cabeça!

publicado por flordocardo às 01:30
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Descoberto o arsenal que em casa detinha, foi preso há dias o padre de Covas do Barroso, no concelho de Boticas.


Mapa: Boticas (c) Todos os direitos reservados Filipe Moreira / Semantix

 

Convenhamos que a detenção ocorreu no passado domingo, depois da missa das 7 horas da manhã; e que o padre tem por apelido o nome Guerra (o que pode já querer dizer qualquer coisa); e que o mesmo tinha problemas vários com diversos paroquianos do município.

 

Convenhamos ainda que o referido arsenal não era por aí além... Umas quantas pistolas, duas caçadeiras e umas centenas de munições, para além de material pirotécnico.

 

O certo, porém, é que eu estou em condições de afirmar que o padre Guerra devia ter a postura de dar a outra face, como ensinam os mandamentos, e não a de se precaver contra possíveis represálias daqueles que dele discordavam por isto ou por aquilo. Ou, dito de outra forma: o padre em questão não devia ser padre. Reparem que eu, sendo ateu, estou obvia e plenamente à vontade para proferir tal afirmação.

 

Todavia, outras considerações se podem tecer sobre este caso.

 

Pode ter sucedido que o padre Guerra tenha, dias antes da detenção, visto pelas redondezas muitos agentes da GNR encapuçados (gorros pretos, não sei se viram nas fotos publicadas aquando da leva do homem a Tribunal...) e tenha duvidado daqueles preparos: seriam ladrões ou agentes da ordem? Pode ter acontecido que o padre Guerra tenha tido medo das últimas investidas de Saramago e se tenha prevenido de um possível ataque diabólico à sua paróquia. Pode o padre Guerra ter temido a eclosão de uma revolução social em virtude da crise. Ou pode ainda o padre Guerra, inseguro pela crise que dizem grassar entre as forças de segurança, ter pretendido salvaguardar os bens da sua igreja da sanha da chusma de larápios que por aí anda. E pode também o pároco, face à crise de vocações eclesiásticas que contamina o país, ter congeminado realizar, pura e simplesmente, uma passagem de ano como nunca fora vista lá na terra, com vista a cativar jovens almas para a nobre missão do sacerdócio.

 

Há que considerar todas as hipóteses. Há que investigar a preceito. Nada de precipitações!

 

Acompanhemos serenamente a evolução do caso. Por mim, prometo continuar a investigar o caso.

publicado por flordocardo às 00:33

26
Out 09

 

 Ondas...

Altas vagas...

 

Quero ver o mar!

publicado por flordocardo às 15:13
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Acordei triste, confesso. Inexplicavelmente triste.

 

E divaguei um pouco; por aqui, por ali... Até me lembrar de Ruy belo. A nossa mente tem destas coisas...

 

Deixo-vos um dos seus poemas.

 

 

Povoamento
 
No teu amor por mim há uma rua que começa
Nem árvores nem casas existiam
antes que tu tivesses palavras
e todo eu fosse um coração para elas
Invento-te e o céu azula-se sobre esta
triste condição de ter de receber
dos choupos onde cantam
os impossíveis pássaros
a nova primavera
Tocam sinos e levantam voo
todos os cuidados
Ó meu amor nem minha mãe
tinha assim um regaço
como este dia tem
E eu chego e sento-me ao lado
da primavera

Ruy Belo
(1933-1978), poema extraído do livro «Aquele Grande Rio Eufrates»

 

publicado por flordocardo às 14:35
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23
Out 09

 

Extremamente interessante a entrevista feita a Henrique Medina Carreira, hoje dada à estampa no «Jornal de Negócios».

 

«Temos um ensino que é uma vergonha»...

«O sistema educativo foi abandonado a umas loucuras e a uns loucos. Esta é a única maneira de acabar com a pobreza e a desigualdade: valorizar a cabeça. Aqui em Portugal pratica-se a desvalorização da cabeça.»

 

Eis o que, a dado passo da entrevista, nos diz HMR.

 

Sublinho o valorizar a cabeça. Mas há mais ideias a registar por ali.

 

Leiam!

publicado por flordocardo às 10:51

22
Out 09

 

Mais de 3.600 trabalhadores foram alvo de despedimento colectivo em Portugal, só nos primeiros nove meses deste ano, um número que supera o registado na totalidade do ano de 2008.
Em comparação homóloga, ou seja, comparando os dados dos primeiros nove meses deste ano com os primeiros nove meses do ano passado, o aumento é de 39 por cento.
Tais dados foram agora divulgados pela Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT).

Entretanto, parece que continuamos entretidos com «Caim»...

 

publicado por flordocardo às 14:49

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