Do mesmo livro de António Ramos Rosa, antes referido, um outro poema.
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São estes os meus semelhantes
e decerto são porque respiramos a mesma poeira
mas para eles ela é o único espaço de existência
e para mim o que deverá ser purificado
por um vento que ignoro de onde virá
Passamos uns pelos outros
em anónima coexistência
em passos vãos que sendo se equivalem a não serem
Só os amigos quebram esta monótona identidade
com acenos de uma comunidade viva
que não somos
Chamamos a esta coexistência sociedade
que não é mais do que ter perdido a pátria
a sua fisionomia sagrada as suas maternas coxas
Oh em que muralha está a estatura ubíqua
desse seio de água e desse vento regeneradores
que eram a presença viva da vida unificada?
25 graus em Lisboa e 27 no Porto.
Havendo governo, da realidade não o há ainda. As cadeiras estão ainda em movimento, para aqui e para ali (Secretários de Estado, Chefes de Gabinete, Assessores, motoristas...).
Tempo propício a despedir com serenidade, como se está a constatar (Quimonda, Delphi, etc.). Entre castanhas, água-pé e algum sol...
Entretanto os agentes da GNR começaram a ser vacinados contra a gripe A. E a Família Real espanhola ofereceu gentilmente de comer a Cavaco Silva e sua esposa...
Eis, em suma, um país recomendável, onde dá gosto viver!!!
Uns chamarão a isto um arremedo de poema; outros, uma crónica breve.
Decidam-se e informem-me!
Foi há instantes. Assisti a uma coisa nunca vista (exceptuando no cinema): a uma serenata.
Eram para aí uns 7 magníficos cantando e tocando.
Acreditem que me comovi e liguei logo para a minha Melra, a qual ainda conseguiu escutar uns acordes da cantoria.
Fiquei a congeminar uma cena igual só para ela. E isto não me sai da cabeça!
Descoberto o arsenal que em casa detinha, foi preso há dias o padre de Covas do Barroso, no concelho de Boticas.
Convenhamos que a detenção ocorreu no passado domingo, depois da missa das 7 horas da manhã; e que o padre tem por apelido o nome Guerra (o que pode já querer dizer qualquer coisa); e que o mesmo tinha problemas vários com diversos paroquianos do município.
Convenhamos ainda que o referido arsenal não era por aí além... Umas quantas pistolas, duas caçadeiras e umas centenas de munições, para além de material pirotécnico.
O certo, porém, é que eu estou em condições de afirmar que o padre Guerra devia ter a postura de dar a outra face, como ensinam os mandamentos, e não a de se precaver contra possíveis represálias daqueles que dele discordavam por isto ou por aquilo. Ou, dito de outra forma: o padre em questão não devia ser padre. Reparem que eu, sendo ateu, estou obvia e plenamente à vontade para proferir tal afirmação.
Todavia, outras considerações se podem tecer sobre este caso.
Pode ter sucedido que o padre Guerra tenha, dias antes da detenção, visto pelas redondezas muitos agentes da GNR encapuçados (gorros pretos, não sei se viram nas fotos publicadas aquando da leva do homem a Tribunal...) e tenha duvidado daqueles preparos: seriam ladrões ou agentes da ordem? Pode ter acontecido que o padre Guerra tenha tido medo das últimas investidas de Saramago e se tenha prevenido de um possível ataque diabólico à sua paróquia. Pode o padre Guerra ter temido a eclosão de uma revolução social em virtude da crise. Ou pode ainda o padre Guerra, inseguro pela crise que dizem grassar entre as forças de segurança, ter pretendido salvaguardar os bens da sua igreja da sanha da chusma de larápios que por aí anda. E pode também o pároco, face à crise de vocações eclesiásticas que contamina o país, ter congeminado realizar, pura e simplesmente, uma passagem de ano como nunca fora vista lá na terra, com vista a cativar jovens almas para a nobre missão do sacerdócio.
Há que considerar todas as hipóteses. Há que investigar a preceito. Nada de precipitações!
Acompanhemos serenamente a evolução do caso. Por mim, prometo continuar a investigar o caso.
Acordei triste, confesso. Inexplicavelmente triste.
E divaguei um pouco; por aqui, por ali... Até me lembrar de Ruy belo. A nossa mente tem destas coisas...
Deixo-vos um dos seus poemas.
Extremamente interessante a entrevista feita a Henrique Medina Carreira, hoje dada à estampa no «Jornal de Negócios».
«Temos um ensino que é uma vergonha»...
«O sistema educativo foi abandonado a umas loucuras e a uns loucos. Esta é a única maneira de acabar com a pobreza e a desigualdade: valorizar a cabeça. Aqui em Portugal pratica-se a desvalorização da cabeça.»
Eis o que, a dado passo da entrevista, nos diz HMR.
Sublinho o valorizar a cabeça. Mas há mais ideias a registar por ali.
Leiam!
Entretanto, parece que continuamos entretidos com «Caim»...