Se fosse vivo Jorge de Sena teria feito ontem 90 anos.
Ora, já que andei nos últimos dias a propor-vos, por interposta pessoa, o tema pátria, e por esse tema ser também caro a Sena, eis que hoje vos dou a conhecer um poema de Jorge Gomes Miranda, retirado do livro «Pontos Luminosos», editado pela Averno em 2004.
Fala de Portugal; e julgo que Sena teria gostado de o ler.
* *
ADVERTÊNCIA
É aconselhável, sabêmo-lo desde Pound, que os poetas
não se imiscuam em questões de economia,
nem quebrem o”dever de lealdade”
para com a nação. Tais imprudências
podem conduzi-los a serem encerrados
em jaulas
e exibidos na praça pública.
Ou serem estudados nas universidades
do estado e dos interesses corporativos
como casos clínicos, recuperáveis para o “texto”;
ou, pior ainda,
condenados à pedra de Sífiso
da Europa dos Vinte e Cinco.
Poeta, aceita com delicadeza e agradecimento
a lisonja pessoal, o elogio sobre a obra
e os prémios literários;
limita a irreverência, o sarcasmo,
a doses mínimas,
e, sobretudo, evita a denúncia
da usura e da burocracia,
a não ser que sejas surrealista reformado,
ou revolucionário no Parlamento.
Podes escolher o teu Gólgota privado,
mas que os teus versos falem sempre do Paraíso
que é viver num país chamado Portugal.