Este poema tem já alguns dias de ossatura, mas só agora foi burilado.
Aqui o deixo para vós, convicto de que sabeis aquilo que ele tragicamente evoca.
* *
Morte no Douro
Na caruma exposta devia nascer uma rosa
ou uma magnólia nas crinas do cavalo
enroladas pelo vento
como lascas de um silêncio em fogo
Só o rio porém revela abrigo
- e nascimento
espanto
exposição de sentido
A água...
o veludo da água
o alpendre que não se vislumbra
o grito repercutido nos socalcos das margens...
Do grito devia nascer o fogo da rosa
o fogo da magnólia
do cavalo
do silêncio trucidado do rio
Porém
o tempo arrefece...
intensamente arrefece contra o peito
como um fruto cortado sem dó
(Parede, 30 Out./11 Nov. 2009)