Pesquisando, fui dar com o artigo de opinião que a seguir aqui transcrevo, assinado pelo Prof. João Ferreira do Amaral para o «Diário Económico», e cujo conteúdo tem ligação directa com o post em que falei do Dr. Mário Soares.
É de novo a Europa em questão. Mas atentem nas interessantes diferenças de perspectiva entre um e outro dos protagonistas... Eu não disse que talvez voltavasse ao assunto?...
E, por agora, fiquemos por aqui.
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O declínio da Europa
(Diário Económico - 28/10/09 - 00:02)
Com a nossa atenção focalizada nas questões de curto prazo que, aliás o justificam, esquecemo-nos de que olhar para um prazo mais alargado é também necessário e instrutivo.
Se o fizermos, relativamente ao que tem sido a evolução económica da Europa das últimas décadas, uma constatação importante - ainda que negativa - surge com toda a clareza: é a do declínio económico da Europa.
Com efeito, o crescimento da primeira década deste século vai ser inferior ao da década de noventa, este ao da década de oitenta e assim sucessivamente até aos anos sessenta. Pior do que isso: ao apresentar nesta primeira década do século um crescimento anual médio de cerca de 1% a Europa do euro entrou num caminho que a longo prazo, não permitirá sustentar de forma minimamente equilibrada o rápido envelhecimento da população.
A evolução é tanto mais grave quanto nesta última década a Europa contou com dois alargamentos, tradicionalmente um ‘doping' com efeitos de curto prazo estimulantes para a economia europeia. Por outro lado, das cinco maiores economias europeias quatro apresentam défices significativos das respectivas balanças de pagamentos (a excepção - até quando? - é a Alemanha).
Do meu ponto de vista, duas causas fundamentais explicam este resultado. Por um lado, a liberalização demasiado rápida do comércio mundial, conjugada com instituições europeias deficientes ao nível da gestão macroeconómica. Por outro lado - e talvez mais importante - o reforço do centralismo europeu, que ao impor, nos mais diversos domínios, directivas idênticas para sociedades muito diferentes tem bloqueado as iniciativas nacionais, E, é bom recordar, sem os estados que a compõem não há Europa. Sempre me espantou a satisfação bacoca dos europeístas convictos ao falarem, com aprovação, da grande percentagem de leis nacionais que é originada em directivas europeias. Se tivessem um poucochinho de distanciamento crítico veriam que esse esmagador centralismo, que afasta cada vez mais as opiniões públicas das instituições europeias, será provavelmente o coveiro da Europa.
Olhando para experiências históricas comparáveis o destino desta Europa parece traçado. Para quem, como eu, gostava da Comunidade Económica Europeia mas não gosta da União Europeia, ou seja da Europa pós-Maastricht, poderia dizer-se que é motivo de satisfação. Não é. Não está no meu feitio o "quanto pior melhor" e sei perfeitamente que quando a hora chegar o bebé poderá ir com a água do banho. Mas também não é solução a resignação. Para nós portugueses, talvez fosse bom pensar se não deveríamos olhar para outras alternativas e reequacionar a estratégia que, desde Maastricht vimos seguindo, de diluição na Europa.
Sem nenhuma honra e - sabe-se agora - com muito pouco proveito.
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João Ferreira do Amaral, Professor universitário