22
Nov 09

 

 
 
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
 
Carlos Drummond de Andrade
(Brasil, 1902-1987)
 

 

 

publicado por flordocardo às 14:17
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20
Nov 09

 

Ontem, em Conselho de Ministros, decisões "históricas" foram adoptadas...

 

Fachada principal do Edifício do Governo Civil

Edifício do Governo Civil de Viseu

 

Entre elas... Foram nomeados 18 novos Governadores Civis.

 

Agora tomem nota...

 

- Isabel Santos, candidata do PS derrotada na corrida à Câmara de Gondomar, é a nova governadora civil do Porto;

 

- Sónia Sanfona, que não conseguiu ganhar a Câmara de Alpiarça, fica com o de Santarém;

 

- José Mota, que perdeu a autarquia de Espinho, vai para o de Aveiro

 

- Miguel Ginestal, que ficou a larga distância de Fernandes Ruas, fica com o  governo civil de Viseu;

 

 - Jorge Gomes, que não conquistou a presidência da Câmara de Bragança, foi nomeado governador civil deste distrito.

 

Conclusão: mesmo que percas as eleições, tens sempre hipótese de chegar mais além (Governador Civil, no mínimo).

 

Portanto, existe uma "casta" de portugueses que jamais pode ser afectada pelo flagelo do desemprego!!!

 

Viva Portugal!!!

 

P.S. - Já agora, alguém me explica para que serve um Governador Civil?

E um Governador Militar?

 

 

publicado por flordocardo às 17:15

18
Nov 09

Um fim-de-semana passado "de molho"...

 

Seguiu-se, no emprego, uma espécie de dança de carpetes (não do ventre), seguida de uma dança de chaves, seguida de uma dança de móveis... Pelos intervalos circulavam carros e voavam papéis... Como podem ver (talvez isto ainda sejam resquícios da febre)...

 

Tem sido uma semana em cheio!!!  Estou quase em estado de choque...

 

Mas proporciona-me algum conforto saber que não sou só eu que me sinto assim. A ministra do Trabalho (do "Trabalho", topam?...) também se sente assim, coitadinha; está «surpreendida» com o agravamento do desemprego em Portugal...

 

Afinal, meus caros, eu estou é à beira de uma apoplexia!!!

 

         P.S. - Apoplexia é uma afecção cerebral que surge inesperadamente,

acompanhada de  privação do uso dos sentidos e ou de suspensão do movimento.

 

 

publicado por flordocardo às 15:23
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11
Nov 09

 

 

Este poema tem já alguns dias de ossatura, mas só agora foi burilado.

 

Aqui o deixo para vós, convicto de que sabeis aquilo que ele tragicamente evoca.

*  *

 Morte no Douro

 

Na caruma exposta devia nascer uma rosa

ou uma magnólia nas crinas do cavalo

enroladas pelo vento

como lascas de um silêncio em fogo

 

Só o rio porém revela abrigo

- e nascimento

espanto

exposição de sentido

 

A água...

o veludo da água

o alpendre que não se vislumbra

o grito repercutido nos socalcos das margens...

 

Do grito devia nascer o fogo da rosa

o fogo da magnólia

do cavalo

do silêncio trucidado do rio

 

Porém

o tempo arrefece...

intensamente arrefece contra o peito

como um fruto cortado sem dó

 

(Parede, 30 Out./11 Nov. 2009)

 

 

publicado por flordocardo às 18:23

10
Nov 09

 

Um poema de Luís Manuel Gaspar - retirado da revista «Telhados de Vidro», nº. 5 (Novembro de 2005) -, eis o que por agora vos deixo aqui.

 
*  *
 
Hei-de saber onde ficou guardado o fogo
que nos queimava o ar que havia entre os dedos
e a praia rasa afundada pela sombra
dos longos passos que deitámos para o mar
 
Hei-de juntar as duas partes deste enredo,
a língua ática dos ramos cor de sangue,
a rede a rojo trespassando a pele de areia,
o remo irado que rompera o dia a meio
 
Hei-de seguir a estrela húmida da fronte
mas noutra vida, noutro anel de claridade,
que as rosas rendem-se ao relâmpago do sono
ou ficam cegas no vermelho do seu laço
 
Velam as barcas sob os arcos. Já não vejo
a minha mão colada a ti na outra margem
publicado por flordocardo às 17:38
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06
Nov 09

 

Casualmente, como a maior parte das vezes, um poema de Eugénio de Andrade para todos vós, com votos de bom fim-de-semana!

 

*  *

Procuro-te

 

 

Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.

Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.

Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.


(in «As Palavras Interditas»)

 

publicado por flordocardo às 16:16
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04
Nov 09

 

Deu recentemente uma série de entrevistas.

Acaba de editar um livro, de seu nome «A economia e o futuro de Portugal» (cujo lançamento ocorreu no passado dia 30 de Outubro, no Centro Cultural de Belém).

 

   $  $

 

Chama-se Ernâni Lopes, é Professor Doutor e está preocupado com o país.

 

Ora - uns mais, outros menos -, preocupados estamos todos; de onde se infere que a novidade e o destaque dado ao cidadão em questão não resulta desse facto, mas antes daquilo que o autor do dito livro analisa, aprecia e propõe.

 

Convirá, primeiro que tudo, explicar quem é, o que fez e o que faz o Prof. Dr. Ernâni Lopes.

 

Ernâni Rodrigues Lopes nasceu em 1942. É Doutorado em Economia (UCP) e Licenciado também em Economia pelo ISCEF. Foi Director de Serviços de Estatística e de Estudos Económicos do Banco de Portugal (1974-1975), Embaixador de Portugal em Bona (Bona!, antiga RFA) de 1975 a 1979. Foi ainda Embaixador, Chefe da Missão de Portugal junto das Comunidades Europeias (Bruxelas), entre 1979 e 1983. Foi ainda Ministro das Finanças e do Plano (do Plano, notem!) do IX Governo Constitucional, chefiado pelo Dr. Mário Soares (1983-1985). Foi ainda consultor económico do Banco de Portugal entre 1985 e 1989. Representou ainda o Governo português na Convenção Europeia (2002-2003). Foi ainda mandatário nacional da coligação PPD/PSD-CDS/PP, "Força Portugal", liderada por João de Deus Pinheiro, candidata às eleições de 2004 para o Parlamento Europeu. Foi ainda presidente do conselho de administração de várias empresas, nomeadamente chairman da «Portugal Telecom». É actualmente o principal responsável da consultora «SaeR - Sociedade de Avaliação Estratégia e Risco, Ldª.»

 

Acresce (e bem) que Ernâni Lopes é quase indesmentivelmente tido como um dos principais ideólogos e negociadores da adesão de Portugal à então denominada CEE.

 

Dito isto, o que nos vem agora revelar o dito e que tanto frisson e eco tem causado na comunicação social?

 

Socorro-me do semanário «Sol» (e não do citado livro, que irei ler mal possa):

 

- Ele diz-nos que a coisa está bera como a ferrugem... Diz-nos que «a nossa industrialização é fraca e insustentada, além de termos um Estado despesista e para nada». De quem será a culpa da desindustrialização do país? Silêncio total...

 

- Diz-nos que as oportunidades de correcção que existiram «não foram aproveitadas, tendo-se perdido activos e vocações, desperdiçado recursos, relevância e poder», pelo que, agora, «o futuro é mais incerto e inseguro». Que oportunidades foram essas (CEE?) e quem as desperdiçou? Silêncio total... 

 

- Diz-nos que Portugal terá um papel importante a cumprir no mundo se assentar a sua geopolítica em «quatro pólos fundamentais», a saber, «Portugal, Europa, África e Brasil» - isto quando nós sabemos que a «adesão europeia» fez a classe dominante portuguesa e seus sucessivos governos optar pela "europeização" e mandar às urtigas a África e o Brasil, realidade patente no facto dos nossos principais parceiros comerciais serem hoje a Espanha e a Alemanha...

 

- Diz-nos que precisamos de «uma elite dirigente» que «não se limite a fazer política corrente» - como se nós não soubessemos que políticos temos tido e temos no poder, e o próprio não tivesse tido aí o seu lugar...

 

- Diz-nos que ter economia «é a condição de existência do país com autonomia» - afirmação que constitui uma revelação, uma verdadeira, tremenda e profundíssima descoberta para todos nós, que somos uns verdadeiros broncos!...

 

- E para terminar, abreviando, diz-nos que se instalou em Portugal «um cenário de definhamento» e que esse é «o problema mais imediato e que temos de matar. O problema é que não há maneira»...

 

Ora porra, porra, porra!!!

 

Haverá pachorra para isto?!...

 

Eu vou ler o livro com calma, juro. Mas o que aqui fica dito é desde já muito revelador. Evidencia, desde logo, a total incapacidade de auto-crítica desta gentinha, já que o Professor Doutor põe o rabinho de fora, pois nada tem a ver, a acreditar nas suas palavras, com o estado de "definhamento" e de podridão a que as coisas chegaram no nosso país.

 

E o problema é que Ernâni Lopes não é caso único...

 

Conclusão: se gente desta é que é a alternativa, então é certo e sabido que vamos continuar entregues à bicharada!!!

 

 

publicado por flordocardo às 18:00

02
Nov 09

 

Casualmente, descobri hoje, dia 2 de Novembro, um post datado de 28 de Outubro de 2009 e inserto no blogue de Garcia Pereira (http://garciapereira2009.blogspot.com).

 

É interessante. Por isso, tomem nota...

De Espanha...

 

Assisti ontem no Instituto de Defesa Nacional a uma interessante Conferência proferida pelo Investigador Manuel Ros Agudo que divulgou o documento aprovado pelo Alto Estado Maior espanhol em Dezembro de 1940 contendo um pormenorizado plano de invasão de Portugal e que permanecera escondido durante mais de 60 anos.
Importa sublinhar, desde logo, que a existência de tal plano sempre fora sustentada por algumas personalidades e forças políticas como o MRPP e sempre fora terminantemente desmentida pelos Comandos Militares e Governos de ambos os Países.
Por outro lado, tal plano representa a continuação do plano de anexação de Afonso III visando confessadamente “corrigir os lapsos dos séculos XIV e XVII que tinham permitido a independência a Portugal”.
Por fim, convirá ter presente dois factos tão simples quanto significativos: por um lado, um dos dois principais eixos desse plano de invasão (Madrid, Badajoz, Elvas, Évora, Setúbal, Lisboa), coincide praticamente com o traçado do TGV defendido por Sócrates...
Por outro lado, ainda hoje, uma das divisões de elite do Exército Espanhol, a célebre “Divisão Brunete”, sediada a Norte de Madrid, tem por uma das suas missões tácticas ocupar Lisboa em 24h!!Este é um motivo sério de reflexão, em particular quando se pretende à viva força fazer-nos acreditar que os planos anexionistas espanhóis não são uma ameaça a considerar em termos de estratégia militar e política do nosso País.
Poderão ler mais “pormenores” (que não o são), aqui no Público.
 

 

publicado por flordocardo às 14:56

 

 

Se fosse vivo Jorge de Sena teria feito ontem 90 anos.
 
Ora, já que andei nos últimos dias a propor-vos, por interposta pessoa, o tema pátria, e por esse tema ser também caro a Sena, eis que hoje vos dou a conhecer um poema de Jorge Gomes Miranda, retirado do livro «Pontos Luminosos», editado pela Averno em 2004.
 
Fala de Portugal; e julgo que Sena teria gostado de o ler.
 
* *
 
ADVERTÊNCIA
 
 
É aconselhável, sabêmo-lo desde Pound, que os poetas
não se imiscuam em questões de economia,
nem quebrem o”dever de lealdade”
para com a nação. Tais imprudências
podem conduzi-los a serem encerrados
em jaulas
e exibidos na praça pública.
Ou serem estudados nas universidades
do estado e dos interesses corporativos
como casos clínicos, recuperáveis para o “texto”;
ou, pior ainda,
condenados à pedra de Sífiso
da Europa dos Vinte e Cinco.
 
Poeta, aceita com delicadeza e agradecimento
a lisonja pessoal, o elogio sobre a obra
e os prémios literários;
limita a irreverência, o sarcasmo,
a doses mínimas,
e, sobretudo, evita a denúncia
da usura e da burocracia,
a não ser que sejas surrealista reformado,
ou revolucionário no Parlamento.
 
Podes escolher o teu Gólgota privado,
mas que os teus versos falem sempre do Paraíso
que é viver num país chamado Portugal.

 

publicado por flordocardo às 10:26
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01
Nov 09

 

Enquanto oiço a banda sonora original de Rodrigo Leão para a série televisiva «Portugal, um retrato social», termino esta brevíssima digressão pela poesia do livro de António Ramos Rosa, intitulado «Pátria Soberana seguido de Nova Ficção», com mais um dos poemas nele insertos.
 
Claro está que o melhor é ler mesmo todo o livro.
 
 
* *
 
O homem que perdeu o sentido da terra perdeu tudo
Não pode o escultor dar forma ao que não tem matéria
Todos os nossos gestos correspondem à paisagem e se não
perde-se a relação viva a consonância essencial
 
Senta-se alguém sobre uma pedra entre pinheiros
e tem em frente o mar e corre leve a brisa
Poderá estar cansado mas a paisagem limpa-lhe
a mente e aligeira as suas sombras
 
Quem olha ainda a linha imóvel das montanhas
e vê no mar a indolente ondulação de uma pantera
e vê as estrelas como se um leque se tivesse aberto
na cúpula celeste e o universo fosse uma árvore de astros?
 
A imaginação precisa da matéria prima
das substâncias da terra da visão material
e se queremos sentir que a pátria ainda está viva
temos de construir com a pedra a água o fogo o ar
a habitação aberta ao jogo do universo

 

publicado por flordocardo às 01:29
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