«A casa está fria e os meus pés estão frios. Algumas palavras acumulam-se, crepitam...»
Isto era o começo de uma prosa breve que eu me propunha escrever e completar esta madrugada - mas que por ali ficou, suspensa.
Deitei-me e dormi, sem que alguma vez o telemóvel manifestasse sinais de vida. Acordei pelas dez e meia, com notícias algo estranhas. Imaginei então uma playlist com gente como Janis Joplin, PJ Harvey, Jeff Buckley, Neil Young, Amélia Muge, Abbey Lincoln e Piazzolla -coisa heterogénea, portanto.
Todavia, levantei-me e mudei de ideias: tomei um banho e fui beber um café, levando comigo os «Quatro Quartetos», do poeta T. S. Eliot. Conclui que este é um belo livro de inverno.
("Time present and time past
Are both perhaps presente in time future,
And time future contained in time past.
If all time is eternally present
All time is unredeemable.
What might have been is an abstraction
Remaining a perpetual possibility
Only in a world of speculation.
What might have been and what has been
Point to one end, which is always present.")
E aqui estou agora, preparando-me para preparar o almoço.
E, afinal, a ficção é real - e os meus olhos tendem a crispar-se por entre o fumo do cigarro; e o frio está aí; e eu até era para estar no Porto; e o telemóvel continua silencioso; e amanhã vou com a minha mãe ao médico; e... ...
Ficção? Real ou imaginário? Verdade ou mentira?