16
Dez 09

 

 

Acabei de ouvir Samuel Úria e o seu disco «Nem lhe tocava». Interessante - mas algo desigual, em meu entender.

 

Lembrei-me então de ajudar a malta sem tempo, sem dinheiro e que desespera com o Natal. Aqui vão umas ideias (não muito actuais, é certo), mas interessantes. Uns CDs fora das playlist, retirados a minha colecção privada.

 

1. Em primeiro lugar (e bem, garanto-vos!) SEPTEMBER SONGS - THE MUSIC OF KURT WEIL. Trata-se de um tributo à obra de Kurt Weil editado em 1997. Foi gravado no Boottleneck Club, em Lawrence, Kansas (EUA) e junta gente como Nick Cave, PJ Harvey, Elvis Costello, Teresa Stratas, Betty Carter e Lou Reed, entre outros. Podem também optar pelo DVD (espectacular, mas difícil de encontrar).

 

Obra-prima!

 

September Songs: The Music of Kurt Weill
 
2. LA CANTINA ("ENTRE COPA Y COPA..."), (de 2006), um CD de Lila Downs. Para curtir...
 3. CANÇÃO AO LADO, um CD dos Deolinda, de 2008. Para curtir também...

 

4. TRIO JEPPY, um CD de jazz capitaneado pelo saxofonista Brandford Marsalis, de 1989. Delicioso...

 

5. HOT HOUSE, jazz por Steve Lacy (saxofone soprano) e Mal Waldron (piano); um CD de 1991. Delicioso também... 

 

6. CRUA, fado por Aldina Duarte; um CD de 2006. Para se entranhar...

 

E por agora é tudo. Bom proveito e continuem   por   aí.

 
 

 

 

publicado por flordocardo às 23:19
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I.  PROPOSIÇÃO          (do livro «O Escriba Acocorado» - Moraes Editores, 1978)

 

Servidor incorruptível da verdade e da memória

escrevo sentado e obscuro palavras terríveis

de ignomínia e acusação. De pouca ternura

também. Na penumbra deste recanto anónimo,

a aranha sombria entretece na quebradiça

 

baba lucilante o fabrico da História.

que há-de ler-se. Animal cauteloso,

retraçando um velho ritual, seus gestos

assumem, ainda assim, a gravidade hesitante

do risco calculado. Séculos de aprendizagem

 

me ensinaram uma humildade serena. Escrevendo

escrevo-me, reconciliado com os agravos

suportados e as ofensas infligidas. Os olhos

que mal vêem, viram e não querem esquecer.

E o que não vêem agora, descortina-o a exercitada

 

sabedoria de quatro sentidos despertos.

Enganei e fui enganado à porta do templo;

No deserto aprendi com a sede a parcimónia.

A um só tempo três mulheres amei

e a nenhuma delas deveras amava. Convicto

 

lhes menti; foram felizes. Eu não. Por isso

sofri lendo-lhes nos rostos a exaltação

ardente de suporem-se amadas. Traindo,

sucumbi também aos ardis de Atena. Traído,

duplamente traído, a traição que me vitima

 

em traidor me erige. Hesitações e lapsos

da vontade, por hábito se mudaram

em outras tantas vilezas traições.

Venho de longe, no verbo latino, no axioma

Grego, fui escravo no Egipto, homens

 

morreram a meu lado e vendo-lhe os olhos

agónicos e súplices, voltei horrorizado o rosto.

Aprendi depois o convívio com a morte e que mortos

são apenas gente que nos espera dormindo.

Engendrei filhos, plantei a árvore, ergui pedra

 

a pedra uma morada. No termo devido, aqueles

dispersaram-se a um destino vário. Breve

me quedava a contemplar os calcinados

escombros da casa que os vira crescer e partir.

Imóvel, assomo agora ao limiar maldito onde,

 

a fugitiva luz que estremece e, roxa, coagula,

velhos que ninguém conforta, hesitam

e aguardam, repartindo em partes iguais

menos pão do que amargura resignada.

Esta é a sequência das imagens quebradas que o sol

 

Descarna, fragmentos de um corpo cuja

acabada totalidade se perde no torvo domínio

do indecifrável. Em cada reflexo cintila a verdade

e todos reenviam ao mais espesso negrume.

Sorriam pois, falsos deuses, ao meu penoso e árduo

 

linguajar; que as glórias efémeras cumpram

o seu destino meteórico e, no azul, a esfera

retenha o escorreito traçado da sua curvatura.

A História que há-de ler-se é por mim escrita.

Anonimato igual nos cobrirá. A estas palavras não.

 

                                             Rui Knopfli  (1932 – 1997)

 

                                                 

Sempre me causou profunda impressão este poema de Knopfli. A sua beleza grave, a sua secura terna, a sua amargura dura e simultaneamente serena, a sua estrutura concisa e musical. Muitas vezes me ocorrem alguns dos seus versos.

Partilho-o hoje convosco.

 

publicado por flordocardo às 17:24
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Poema ainda quente... 

 

*  *  *

 

Estou ferido

Quase imperceptível o sangue
 
Os pardais ao fim da tarde
regressam às árvores
põem a conversa em dia
 
Eu não
 
                                      Lisboa, 16.12.2009

 

 

publicado por flordocardo às 14:48

 

Após solicitação geral minha, S., no passado dia 9, deu-me uns conselhos musicais que só agora pude em parte seguir. É que, como já devem ter percebido, o meu período de reflexão foi abruptamente interrompido por uma série de factos e dislates aos quais não consegui ficar incólume e quieto.

 

Pois bem, S., ouvi hoje

 

Jeff Buckley - Hallelujah
Dave Mathews Band - The Stone
Caetano Veloso - Fora da Ordem

 

Gostei.

 

E agora acabo de ouvir Samuel Úria (só 3 temas do CD «Nem lhe tocava», há dias editado). 

 

Mais logo haverá tempo para escutar o resto deste disco e as restantes músicas aconselhadas por S.

 

Cardo

                                        Foto - Jorge Soares

 

publicado por flordocardo às 01:44
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Não sei quando é que a praga terá começado. Eventualmente com a história do football, do mister, do snack-bar, ou do shopping
 
Depois veio o marketing, o software, o hardware, o reset, o restart (será restaurar?...), o link (será ligação?...), o upgrade, o fitness (será qualquer coisa que tenha  a ver com o filho do Elliot Ness?...), o ranking e, é claro, o big-brother
 
O que eu sei é que, depois, uma terceira vaga da teimosa praga nos trouxe o outsourcing («…uma forma de acrescentar valor a um negócio convertendo um centro de custos interno num serviço externo através da subcontratação, permitindo a libertação dos gestores para concentrarem a sua atenção nas áreas de negócio de elevada importância estratégica» - conceito exposto por Paulo Nunes,Economista, Professor e Consultor de Empresas), o backoffice, o cluster, a task force, o management, o budget, o project-finance, as star-up, as spin-out (assim umas coisas que saem de dentro de outras, como que por “magia”…) o mix (de tudo e mais alguma coisa, incluindo o «mix de impostos»…), o spread, o CEO, o rating, os subprime, o default. E ainda dois recentes achados meus: o double degree (será duplo grau?...) e a climate change
 
Chiça!!!
 
Mas se pegarmos nos jornais, sobretudo nos jornais ditos económicos, ou então nos suplementos de economia dos jornais diários ou semanários ditos generalistas… Put’... que pariu! É um ver se te avias, meus caros!!!
 
Alguns jornais de “referência” até se dão ao orgástico prazer de escrever uma expressão ou palavra em língua estrangeira para depois, entre parêntesis, a “traduzirem” para português – o que é verdadeiramente o cúmulo dos cúmulos do “amor” à nossa língua (a este propósito vejam, por exemplo, o caderno económico da última edição do semanário «Expresso»)!
 
De tal forma a praga nos ataca que os governantes - e acima de tudo os economistas – já não conseguem expressar-se noutro idioma que não seja o idioma… inglesar!
 
Este regabofe é saloio até dizer chega. É que esta gente tenta mostrar-se culta inglesando, quando nem português sabe verdadeiramente falar (e, possivelmente, escrever); basta escutar a forma como a saloiada constrói grande parte das tonitroantes frases com que diariamente nos pretende narcotizar…E este pessoal é fielmente seguido em tais disfunções, passo a passo, pela grande maioria dos nossos jornalistas…
 
Pois. É Portugal no seu melhor. Só é paradoxal (ou talvez não) que quanto mais inglesado, mais pobre

  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

P.S. - Era para vos falar de anglicismos e acabei por vos falar do idioma inglesar. Desculpem lá. Eu sei que me desculpam.

É que...

Ouvi alguém um dia dizer (já não lembro quem) que a língua é mais forte que tudo; até que o próprio sangue. Mas para esta gente de que vos falei as coisas não são assim. 

 

publicado por flordocardo às 01:08

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