01
Jan 10

 

Uma noite de olhos fechados, mas praticamente sem dormir.
 
Um duche e rua. Fui beber um café e procurar notícias. Sobretudo ver se encontrava o famigerado Novo Acordo Ortográfico. Não o encontrei, felizmente.
 
O tempo levantou um pouco.
 
Notícias deste primeiro dia de 2010?...
 
* Com 17 milhões de euros investidos em novos jogadores, o futebol português é para já o mais gastador da Europa, neste designado «mercado de Inverno» - que oficialmente abre hoje e encerra no dia 31;
* A pobreza infantil em Portugal aumentou para 23 por cento;
* A Bolsa nacional valorizou 33,5 por cento em 2009, obtendo o seu maior ganho desde 1997 para cá;
* Segundo as últimas estimativas, existem 3 mil sem-abrigo em todo o país;
* A Espanha toma hoje conta da presidência da União Europeia;
* 1 em cada 5 portugueses é pobre;
* Clientes da EDP em Vieira do Minho chegam a ter 15 cortes de energia por dia;
* O mar galgou a terra na marginal, em Paço D’Arcos, destruindo os pequenos armazéns de apetrechos (3 m2) dos pescadores locais, pelos quais eles pagam 25 euros por mês à APL; e esta não se responsabiliza pelos prejuízos…
 
Entretanto, se hoje feri ou magoei alguém aqui me retracto. Não sou feito de ferro, é certo; mas não queria, não queria, não queria. Jamais!
 
Ficarei grato se tais desculpas forem aceites.
 
Continuem por aí.

 

publicado por flordocardo às 14:12

 

Tomo agora um "Jack Daniel's" antes de me ir deitar.

 

Antes houve mensagens, telefonemas, e-mails. Adelaide Saraiva, Eduardo, Maria dos Anjos, Olga, Teresa Ferreira, Ana Raimundo, Miriam, Carlos Paisana, Ana Baia, Adelaide Santos, Fátima, Rui Mateus, Alberto, Manuela, Rudy... Gente que estimo e/ou amo e que por qualquer coisa me estima e/ou ama também, ou faz pelo menos o carinho de se lembrar de mim (e alguns não vejo há largo tempo).

Foi bom. Foi bom, pois eu sei que, na sua maioria, me consideram um tipo sensível (provavelmente em demasia), não egoísta, incapaz de mentir, muitas vezes inseguro, sincero e frontal quando tal é preciso ser, fiel, incapaz de lixar o próximo, mas capaz de pedir desculpas quando elas se impõem (mesmo que por vezes tenha um feitio fodido - que tem!).

 

Mas agora vou-me deitar. Caso contrário ainda revelo o telefonema de uma pessoa que respeito e adoro, e que no fundo estragou o resto de uma noite (de um dia) que já não tinha começado bem. Uma pessoa que tem promessas a cumprir com ela própria, mas que tem grandes dificuldades em cumprir aquilo a que se compromete perante os outros. E sofre angustiadamente com isso. E precisa de ajuda (tanto ou mais que eu). E eu, se nada mais lhe puder dar, quero dar-lhe essa ajuda - se puder e se ela deixar. 

 

Agora, durmam bem. Eu vou tentar.

 

 

publicado por flordocardo às 02:32
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Comi as minhas doze passas com 2 desejos alternados (6 de cada, repetidos) que só eu sei quais são; entre lambidelas de cão e o «Navegar, Navegar» do Fausto, logo seguido de «O Barco Vai de Saída».

 

Lágrimas, algumas, pelo meio.

 

Adiante.

 

Para abrir o ano, nada de melhor me ocorre do que este poema de Jorge de Sena.

E não me peçam para explicar qual a razão.

 

                                                  O Minotauro - George F. Watts

 

 
EM CRETA, COM O MINOTAURO
 
I
 
Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Coleccionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha.
 
II
 
O Minotauro compreender-me-á.
Tem cornos, como os sábios e os inimigos da vida.
É metade boi e metade homem, como todos os homens.
Violava e devorava virgens, como todas as bestas.
Filho de Pasifae, foi irmão de um verso de Racine,
que Valéry, o cretino, achava um dos mais belos da «langue».
Irmão também de Ariadne, embrulharam-no num novelo de que se lixou.
Teseu, o herói, e, como todos os gregos heróicos, um filho da puta,
riu-lhe no focinho respeitável.
O Minotauro compreender-me-á, tomará café comigo, enquanto
o sol serenamente desce sobre o mar, e as sombras,
cheias de ninfas e de efebos desempregados,
se cerrarão dulcíssimas nas chávenas,
como o açúcar que mexeremos com o dedo sujo
de investigar as origens da vida.
 
III
 
É aí que eu quero reencontrar-me de ter deixado
a vida pelo mundo em pedaços repartida, como dizia
aquele pobre diabo que o Minotauro não leu, porque,
como toda a gente, não sabe português.
Também eu não sei grego, segundo as mais seguras informações.
Conversaremos em volapuque, já
que nenhum de nós o sabe. O Minotauro
não falava grego, não era grego, viveu antes da Grécia,
de toda esta merda douta que nos cobre há séculos,
cagada pelos nossos escravos, ou por nós quando somos
os escravos de outros. Ao café,
diremos um ao outro as nossas mágoas.
 
IV
 
Com pátrias nos compram e nos vendem, à falta
de pátrias que se vendam suficientemente caras para haver vergonha
de não pertencer a elas. Nem eu, nem o Minotauro,
teremos nenhuma pátria. Apenas o café,
aromático e bem forte, não da Arábia ou do Brasil,
da Fedecam, ou de Angola, ou parte alguma. Mas café
contudo e que eu, com filial ternura,
verei escorrer-lhe do queixo de boi
até aos joelhos de homem que não sabe
de quem herdou, se do pai, se da mãe,
os cornos retorcidos que lhe ornam a
nobre fronte anterior a Atenas, e, quem sabe,
à Palestina, e outros lugares turísticos,
imensamente patrióticos.
 
V
 
Em Creta, com o Minotauro,
sem versos e sem vida,
sem pátrias e sem espírito,
sem nada, nem ninguém,
que não seja o dedo sujo,
hei-de tomar em paz o meu café.
 
            1965
 
(retirado do livro «Jorge de Sena – Poesia III», Moraes Editores, Lisboa, 1978)
 

 

publicado por flordocardo às 00:08
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