07
Jan 10

 

Passam hoje 400 anos sobre o momento em que Galileu observou os satélites do planeta Saturno.

Aproveite-se o ensejo para...

*

 

Poema para Galileo

 

  

 

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florenca.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria
Eu sei... Eu sei...
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!
Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência as coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar - que disparate, Galileo!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeca
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando num perigo
para a Humanidade
e para a Civilizacão.
Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas - parece que estou a vê-las -,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.
Ai, Galileo!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos. 
  
                                                           António Gedeão (1906-1997)
 
 
publicado por flordocardo às 22:31
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Ela tem um brilho tocado pela sombra
 
e não sei se amo mais o brilho ou essa sombra
(sempre quentes)
 
Sei que a amo assim inteira e dividida
(entre os caminhos)
 
 
Lisboa, 07.01.2010

 

Pormenor do cartaz de promoção da exposição Project Room (Joana Montez, L.M.C., Nuno Bettencourt, Pedro Cá, U.I.U., Charlisteve), na Casa Bernardo – Caldas da Rainha)

 

publicado por flordocardo às 13:02

 

A Academia Musical e Recreativa 8 de Janeiro, em Alhos Vedros, está a comemorar o seu 72º. aniversário.

Tenho lá amigos que me fizeram chegar um Convite para a sessão/festa que vai ter lugar dia 8, sexta-feira, pelas 21 horas, na Biblioteca de Alhos Vedros (núcleo Zeca Afonso).

O tema da sessão/festa será a AMIZADE.

Divulguem!

 

Eu vou tentar lá ir.

 

 

 

 

publicado por flordocardo às 10:47

 

Parte dos dias 1, 2 e 3 a trabalhar para o jornal. Anteontem também; e ontem também, uma parte da noite.

 

Último jantarito? Uma canja, um cachorro (salvo seja!) e uma imperial.

 

 

Agora, já em casa, o complemento do jantarito: chá e torradas.


Photobucket

 

Um chá triste?

 

Não.

 

Tristíssimo é o termo mais adequado.

 

E agora vou à deita, esperando pela manhã não ter que abrir novo furo no cinto das calças como na manhã antecedente.

 

publicado por flordocardo às 01:01

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