Não vale a pena fingir que a coisa não é connosco; não vale a pena fingir que não estamos a ver. Neste país, há uma crise política colocada em cima da mesa.
O que importa sublinhar é que esta crise política não tem por base a crise financeira do país. Ou melhor: essa crise financeira não é origem mas consequência de outra coisa mais profunda...
A crise actual não é sobretudo financeira. Ela não reside no problema de mais ou menos despesa, mais ou menos receita. A crise é económica. E é desta crise profunda que resultam todas as demais crises. Ora é precisamente esta a questão que nos procuram deliberadamente ocultar.
O problema está no facto de partirem do Orçamento de Estado mais 30 milhões ou menos 30 milhões de euros para a Região Autónoma da Madeira? Não está. Se assim fosse, talvez então fosse de considerar maior comedimento noutras despesas – como as ajudas de custo pagas a deputados a residir no estrangeiro; como a aquisição (ou aluguer) de automóveis topo de gama para aparelho de Estado; como as verbas esmifradas aos contribuintes para o Estado pagar aos privados “benefícios públicos” (através das parcerias público-privadas); como os milhões de euros que foram colocados nos bancos para os “salvar”; ou como as «reformas douradas» de certos ex-gestores “públicos”, etc., etc.
Sucede, todavia, que o problema fulcral está na economia. Temos uma economia produtiva, capaz de produzir bens e serviços de qualidade? Ou temos uma economia de rastos, anárquica, sem plano? No fundamental, é a segunda que temos: uma economia de completa dependência, condenada a estiolar, sem futuro. Só modificando radicalmente esta economia que temos se pode em seguida falar de receitas e despesas, do “deve” e do “haver”. Porque será ela que irá determinar onde se deve investir, onde se gastar e onde se deve poupar o dinheiro. É PRECISO CRIAR (essa) ECONOMIA!
É isto que vale a pena discutir. É isto que deve valer o nosso empenho.
Como diria o já falecido poeta Raul de Carvalho,
«Cumpre-nos fazer imensa coisa.
(…)
Cumpre-nos estudar o mundo do avesso.
(…)
Cumpre-nos não ser tratados como cães.»
Eu voltarei, por certo, ao assunto (e um dia destes dar-vos-ei a conhecer o poema aqui referenciado).
Continuai por aí, ó gentes!