Não movas a espessura desta hora
(ah se soubesses a espessura desta hora…)
Estar vivo é não estar imune
A não ser que a alma cante e arda
não toques a espessura desta hora
Não movas a espessura desta hora
(ah se soubesses a espessura desta hora…)
Estar vivo é não estar imune
A não ser que a alma cante e arda
não toques a espessura desta hora
Não, outra vez não (julguei que estava a passar) !!!
(E o regresso do ceu cinzento e do canto da chuva) ... ...
Adormecer tarde e acordar cedo. Olheiras. Receita?...
A magnólia
A exaltação do mínimo,
e o magnífico relâmpago
do acontecimento mestre
restituem-me a forma
o meu resplendor.
Um diminuto berço me recolhe
onde a palavra se elide
na matéria - na metáfora -
necessária, e leve, a cada um
onde se ecoa e resvala.
A magnólia,
o som que se desenvolve nela
quando pronunciada,
é um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo ente magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim.
Luiza Neto Jorge (1939-1989)
(do livro «O seu a seu tempo», organização e prefácio de Fernando Cabral Martins
Assírio & Alvim - 2ª edição, 2001)