Consta que o Sr. Mexia, da EDP, auferiu em 2009 qualquer coisa como 8500 euros por dia. Vária gente anda escandalizada com o facto, incluindo alguns membros do governo, alguns militantes do PS, alguns militantes do CDS, alguns militantes do BE, etc. Eu, como qualquer pessoa decente, também me escandalizo.
Todavia, o problema é que os vencimentos do Sr. Mexia e outros que tais (alguns, como sabem, já aqui por mim referidos em posts anteriores) não constituem uma excepção, mas antes a regra, pelo menos ao nível das grandes empresas cotadas na Bolsa (tenham elas participação ou não do Estado). Estes senhores são peixes de águas profundas, movendo-se airosamente de empresa para empresa e às vezes de partido para partido, mas sempre ao serviço do apetite dos seus bolsos e do poder instalado.
Quero eu dizer: se não fosse a profunda crise global que neste momento afecta a economia capitalista, as agora escandalizadas carpideiras de serviço estariam neste momento caladinhas que nem ratos no escuro… É porque a crise é vasta e profunda que esta gente descobriu agora a “pólvora” da indignação, onde antes via normalidade, moralidade (e nem piava, porque, se calhar, também “mamava”…). Ou seja: quando a crise passar, as falsas virgens meterão a viola no saco e tudo voltará à normalidade…
E será que estes “protestantes” de agora não sabiam desde há anos que vivemos num país onde a desigualdade salarial é uma das maiores nódoas ao nível de toda a União Europeia? Será que só agora descobriram tão miserável realidade?
E sejamos duros, nós que trabalhamos, até connosco próprios: muitos de nós também sabíamos e fingíamos que não víamos; e muitos ainda fingem que não vêem, não é? Ver, perceber, denunciar, actuar, lutar dá chatice…
Abomino a hipocrisia. Mas se eu estiver errado digam, está bem?
(Hipocrisia - fingir ter crenças, virtudes e sentimentos que a pessoa na verdade não possui; fingimento de opiniões apreciáveis; devoção fingida.)