De «Grace» - um disco de pura magia!
Para fechar este dia de aniversário, não encontrei melhor...
De «Grace» - um disco de pura magia!
Para fechar este dia de aniversário, não encontrei melhor...
Há um ano atrás, mais ou menos por esta hora, teve início a aventura deste blogue. O barco largou o cais para parte incerta e sem ideia precisa do mar que apanharia pela frente.
Um ano de vida e de viagem… e o que vos posso dizer?...
Que procurei estar atento e fiel às minhas convicções; que aprendi coisas novas e descobri pessoas novas; que o mundo é incomensuravelmente grande; que pude continuar a surpreender-me - coisa imprescindível a qualquer vida que a si própria se mereça; que pude, talvez, surpreender outros também; que desesperei, chorei e ri.
Não sendo tudo, é ainda assim muito. Por estranho que isto possa parecer, acho que ganhei um novo irmão (ou irmã) e que tal facto me ajudou a manter-me vivo em alguns momentos mais difíceis.
Deste ano de deriva resultaram até agora 570 posts - incluindo este - e 551 comentários. Ou seja, em média, mais de um post e meio por dia, sucedendo praticamente o mesmo com os comentários (ainda que, entre estes, muitos sejam respostas minhas aos comentários surgidos). Por este prisma, também considero o balanço positivo.
Tenho a impressão que falta por aqui, porém, qualquer coisa ainda; algo de indecifrável. Mas talvez seja na realidade a mim que essa coisa falte (sobremaneira neste dia de hoje), e não propriamente ao blogue em si mesmo. A ver vamos.
Mas sei que gosto de vos ter por aí - uns mais ocultos do que outros, outros mais visíveis do que outros. E continuarei por aqui enquanto as forças não me faltarem, enquanto este blogue continuar a fazer sentido em mim.
Aproveito o ensejo para vos comunicar que repus umas fotografias que havia retirado (ver o post «Falar do Blogue»). Tal como na altura fez sentido “apagá-las”, tenho para mim que agora tal deixou de fazer sentido.
Abraça-vos. Renovo os agradecimentos feitos em 25 de Janeiro (no citado post) e acrescento o meu obrigado à «reptos», à «só avulso», à «spaghetti spot» e à «divagar sobre» - cujos respectivos blogues têm sido permanente companhia minha nos tempos mais recentes.
Continuemos a viagem. Continuemos o mar.
Deixem-me ser testemunho. Deixem-me ser a flor do cardo!
Este blogue faz hoje anos...
O tempo passa a correr!
Espero que continuem por aí, pois eu já volto. Gozem o sol deste dia e regressem aqui depois das 19 horas, pois será tempo de balanço.
LIBERDADE
Nos meus cadernos de escola
Na minha carteira e nas árvores
Nos areais e na neve
Escrevo o teu nome
Em todas as páginas lidas
Em todas as páginas brancas
Pedra sangue papel cinza
Escrevo o teu nome
Sobre as imagens douradas
Nos estandartes guerreiros
Tal como na coroa dos reis
Escrevo o teu nome
Nas selvas e no deserto
Nos ninhos e nas giestas
No eco da minha infância
Escrevo o teu nome
Nas maravilhas das noites
No pão branco dos dias
Nas estações enlaçadas
Escrevo o teu nome
Nos meus farrapos de azul
No pântano sol alterado
No lago luar vivente
Escrevo o teu nome
Nos campos do horizonte
Sobre umas asas de pássaro
Sobre o moinho das sombras
Escrevo o teu nome
Em cada sopro de aurora
Na água do mar e nos barcos
Na serrania demente
Escrevo o teu nome
Na clara espuma das nuvens
Nos suores da tempestade
Na chuva insípida e espessa
Escrevo o teu nome
Nas formas resplandecentes
Nos sinos de muitas cores
Sobre a verdade da física
Escrevo o teu nome
Nas veredas bem despertas
Nos caminhos descerrados
Nas praças que se extravasam
Escrevo o teu nome
Na lâmpada que se acende
Na lâmpada que se apaga
Nas minhas casas unidas
Escrevo o teu nome
No fruto partido em dois
do meu espelho e do meu quarto
Na cama concha vazia
Escrevo o teu nome
No meu cão guloso e meigo
Nas suas orelhas erguidas
Na sua pata sem jeito
Escrevo o teu nome
Na soleira desta porta
Nos objectos familiares
Na língua de puro fogo
Escrevo o teu nome
Em toda a carne que tive
Na fronte dos meus amigos
Em cada mão que se estende
Escrevo o teu nome
Na vidraça das surpresas
Nos lábios que estão atentos
Muito acima do silêncio
Escrevo o teu nome
Nos meus refúgios desfeitos
Nos meus faróis aluídos
Nas paredes do meu tédio
Escrevo o teu nome
Na ausência sem desejo
Na solidão despojada
Na escadaria da morte
Escrevo o teu nome
Sobre a saúde refeita
Sobre o perigo dissipado
Sobre a esperança esquecida
Escrevo o teu nome
E pelo poder da palavra
Recomeço a minha vida
Nasci para te conhecer
Nasci para te nomear
Liberdade
Paul Éluard (França, 1895-1952)
1 - Fui ontem à sessão pública em prol da iniciativa legislativa de cidadãos que visa revogar o «Acordo Ortográfico» (ou seja, a Resolução da Assembleia da República nº.35/2008); apesar de alguns contratempos, correu bem e aprendi mais coisas sobre o tema. Vou participar na iniciativa e apelo a que o façam também (depois darei mais pormenores).
2 - Fiz depois uma digressão das minhas, daquelas sem horário: Lg. da Graça, Miradouro da Nossa Senhora do Monte, Anjos, Intendente, metropolitano, comboio e... casa.
3 - Aqui chegado agarrei-me ao blogue, corrigi pequenas coisas, passeei por outros blogues; descobri com alegria que o «reptos» voltou ao activo, assim como o «também quero um blog» (mas continuo preocupado com o «lembra-me» e o «voando por manchester»...).
4 - Era isto que tinha planeado? Não, de todo (era fazer umas compras e umas arrumações, escrever, dar um pulo à praia).
5 - Mas agora cama, pois tenho que estar fresco para o aniversário!
(Não posso adiar o amor para outro século)
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa
(extraído de «Líricas Portuguesas - II Volume», selecção e apresentação de Jorge de Sena - Edições 70, 1983)