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Mai 10

 

http://www.peticaopublica.com/?pi=aluturma

 

Por aqui chegarão a uma petição em curso - e, no meu ponto de vista, oportuna.

Pais, alunos, professores, associações e sindicatos juntaram-se em torno dela, reclamando a urgente redução do número de alunos por turma e por professor.

 

Já estou a ouvir uma vozes a reclamar: «isso vai sair muito caro».

 

Só que eu acho que sai muito caro (caríssimo!) andarmos neste país a fingir que se ensina (com turmas sobrelotadas e professores com 160 a 170 alunos)!

 

Por isso, leiam o texto da petição e, se concordarem, assinem.

 

publicado por flordocardo às 01:56

 

                         

  

«Toco a tua boca.

 

Com um dedo, toco a borda da tua boca, desenhando-a como se saísse da minha mão, como se a tua boca se entreabrisse pela primeira vez, e basta-me fechar os olhos para tudo desfazer e começar de novo, faço nascer outra vez a boca que desejo, a boca que a minha mão define e desenha na tua cara, uma boca escolhida entre todas as bocas, escolhida por mim com soberana liberdade para desenhá-la com a minha mão na tua cara e que, por um acaso que não procuro compreender, coincide exactamente com a tua boca, que sorri por baixo da que a minha mão te desenha.

 

Olhas-me, de perto me olhas, cada vez mais de perto, e então brincamos aos ciclopes, olhando-nos cada vez mais de perto. Os olhos agigantam-se, aproximam-se entre si, sobrepõem-se, e os ciclopes olham-se, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam sem vontade, mordendo-se com os lábios, quase não apoiando a língua nos dentes, brincando nos seus espaços onde um ar pesado vai e vem com um perfume velho e um silêncio. Então as minhas mãos tentam fundir-se no teu cabelo, acariciar lentamente as profundezas do teu cabelo enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de uma fragrância obscura. E se nos mordemos a dor é doce, e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo do fôlego, essa morte instantânea é bela. E há apenas uma saliva e apenas um sabor a fruta madura, e eu sinto-te tremer em mim como a lua na água.»

 

                                              Julio Cortazar (1914-1984) - in «O Jogo do Mundo»

 

publicado por flordocardo às 00:44

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