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Mai 10

 

 

O património arquitectónico de origem portuguesa disperso pelo mundo é reunido, pela primeira vez, num «dicionário» coordenado por José Mattoso, cujo primeiro volume é apresentado esta segunda-feira pela Fundação Calouste Gulbenkian.

O projecto, iniciado há três anos, intitula-se «Património de origem portuguesa no mundo» e é constituído por três volumes.

Eis um dicionário interessante – um dicionário de sítios e monumentos «por ordem alfabética do nome do lugar», como José Matttoso explica no prefácio.

publicado por flordocardo às 12:34

 

 

Eça de Queirós escreveu nas «Farpas»:

 

 

 

 

 «... Nós estamos num estado comparável somente à Grécia: mesma pobreza, mesma indignidade política, mesma trapalhada económica, mesmo abaixamento de caracteres, mesma decadência de espírito. Nos livros estrangeiros, nas revistas, quando se fala num país caótico e que pela sua decadência progressiva, poderá vir a ser riscado do mapa da Europa, citam-se a par, a Grécia e Portugal.»

 

(1879)

 

PS - Como é sabido, Eça era um malandro, um maldizente e estava-se marimbando para as empresas de rating...

publicado por flordocardo às 12:23
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*   * 

 

(Sim, farei…)

 

I

 

Sim, farei...; e hora a hora passa o dia...
Farei, e dia a dia passa o mês...
E eu, cheio sempre só do que faria,
Vejo que o que faria se não fez,
De mim, mesmo em inútil nostalgia.

 

Farei, farei... Anos os meses são
Quando são muitos-anos, toda a vida,
Tudo... E sempre a mesma sensação
Que qualquer cousa há-de ser conseguida,
E sempre quieto o pé e inerte a mão...

 

Farei, farei, farei... Sim, qualquer hora
Talvez me traga o esforço e a vitória,
Mas será só se mos trouxer de fora.
Quis tudo - a paz, ilusão, a glória...
Que obscuro absurdo a minha alma chora?

 

II

 

Farei talvez um dia um poema meu,
Não qualquer cousa que, se eu a analiso,
É só a teia que se em mim teceu
De tanto alheio e anónimo improviso
Que ou a mim ou a eles esqueceu...

 

Um poema próprio, em que me vá o ser,
Em que eu diga o que sinto e o que sou,
Sem pensar, sem fingir e sem querer,
Como um lugar exacto, o onde estou,
E onde me possam, como sou, me ver.

 

Ah, mas quem pode ser o que é? Quem sabe
Ter a alma que tem? Quem é quem é?
Sombras de nós, só reflectir nos cabe.
Mas reflectir, ramos irreais, o quê?
Talvez só o vento que nos fecha e abre.

 

III

 

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

 

Mas pobre o sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperança a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

 

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solene pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

 

(02.08.1933) 

                              Fernando Pessoa (1888-1935)

 

(in «Novas poesias inéditas»)

publicado por flordocardo às 01:37
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publicado por flordocardo às 00:54
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