Portagens/SCUT - O PSD diz a este respeito que as negociações com o governo vão ser «às claras».
Antevejo umas negociações do tipo das apresentadas acima...
Portagens/SCUT - O PSD diz a este respeito que as negociações com o governo vão ser «às claras».
Antevejo umas negociações do tipo das apresentadas acima...
Para quem não os conseguiu ir "ouver" ontem (incluindo eu e muito possivelmente a ónix)...
Guardo há muito tempo um poema seu, impresso num recorte de jornal já amarelecido pelo tempo. Tenho a certeza que foi tornado público na segunda metade dos anos 80, estou em crer que no «Diário de Notícias». Foi publicado como um inédito da poeta e desconheço se alguma vez foi dado à estampa em livro da autora.
Sei que na altura me impressionou, que o guardei e que há uns meses o redescobri.
É esse poema - «Ardem Pinhais» - que aqui e agora vos faculto.
*
Ardem pinhais nesta terra reduzida
Fogos na noite e no dia lanças e gestos de chama
Que chama minha loucura submissa
Triste, triste é adjectivo ao acaso
Num poente de azul não domado
Poente maior que a terra de fogo cruzada
E vivem corações mornos desatentos ao fogo que domina o chão
E os pinhais e as ervas e as casas ardem e aquecem a morte das cinzas
[frias
Poente no chão com carvão da madrugada longe do verde das agulhas
[verdes
Das pinhas mansas e bravas, pombas fechadas de lenha
E adormecidos ninhos com ovos de pássaros que de longe trouxeram
[as longas penas e queriam casar
E tudo se cansa no fogo
E tudo adormece nos corações indiferentes
Que podem bolçar o sangue de fogo cansado
E minha loucura não traz água que o fogo domine
Deixa morrer as pombas de lenha e as agulhas verdes
As pombas pinhas que eu procurava na infância e calava nas mãos
[pequenas
Escutando ovos de acordados ninhos
Numa terra que foi doçura enquanto terra e eu pequena
Pequena sem infância mas com terra inocente de pinheiros que
[cheiravam a resina
Pequena a infância que pegava nas agulhas caídas no chão
E fazia colares de agulhas verdes agulhas que eram para a cama do
[gado
Calor dos bois vermelhos de terra
E era o cheiro do gado, o seu cheiro de urina, de leite e de bosta seca
E uma postura serena
Os arcos dos seus chifres floridos de ternura mansa
E minha avó erguida soprava um búzio como se estivesse em caça real
Erguia sua pobreza feita de panos pretos e chamava para o jantar
Os servos que não tinha num eco de tempos
E hoje tudo arde na memória, arde o arco da sala pobre
Seu único luxo e quadro das idades em que apareciam as idades
Cinco degraus de cada lado da escada em ângulo agudo
Cada degrau dez anos até ao morrer
E minha avó morreu e o quadro não foi no seu caixão mas ninguém o
[guardaria
Para o meu quarto e de minha irmã havia um degrau de pinho
E no degrau já cheiravam os lençóis de linho grosso
E o canto do folhelho pisado, único canto que me adormeceu
Ressonam os animais bois na corte sobre as agulhas dum meu colar
E minhas pombas de lenha dormem longe no orvalho
E meu colar hoje é de fogo e minha garganta de fogo se cala
E minhas mãos agora são grandes e seguram pombas de sangue que
[foram lenha do pinhal orvalhado
E minha loucura mansa vai passear os bois pelo caminho velho
Até à fonte do real
E diz adeus às crianças tristes que têm o pai em França
E às outras que são pobres também de outras orfandades
E o sino da igreja toca, toca a finados e derrama silêncio
E eu vou dar de beber aos bois e oiço o búzio que a minha avó soprou
E o som atravessa os pinheiros verdes até ao rio até à raia
E os olhos dos bois já bebem fogo e são toiros de raiva abraçada a
[fronte em cornos
Simétrica lira que ninguém sabe dedilhar
E minha avó que nunca me tratou por tu, pergunta humilde já
[sabendo:
- Neta, porque é que você chora tanto?
MATILDE ROSA ARAÚJO (1921-2010)