09
Jul 10

 

Portagens/SCUT - O PSD diz a este respeito que as negociações com o governo vão ser «às claras».

Antevejo umas negociações do tipo das apresentadas acima...

 

publicado por flordocardo às 18:39

 

Para quem não os conseguiu ir "ouver" ontem (incluindo eu e muito possivelmente a ónix)...

publicado por flordocardo às 16:17
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Professora, figura tutelar da literatura infanto-juvenil, mas igualmente poeta, Matilde Rosa Araújo morreu no passado dia 6.

Guardo há muito tempo um poema seu, impresso num recorte de jornal já amarelecido pelo tempo. Tenho a certeza que foi tornado público na segunda metade dos anos 80, estou em crer que no «Diário de Notícias». Foi publicado como um inédito da poeta e desconheço se alguma vez foi dado à estampa em livro da autora.

Sei que na altura me impressionou, que o guardei e que há uns meses o redescobri.

É esse poema - «Ardem Pinhais» - que aqui e agora vos faculto.

 

*

 

ARDEM PINHAIS

 

Ardem pinhais nesta terra reduzida

Fogos na noite e no dia lanças e gestos de chama

Que chama minha loucura submissa

Triste, triste é adjectivo ao acaso

Num poente de azul não domado

Poente maior que a terra de fogo cruzada

E vivem corações mornos desatentos ao fogo que domina o chão

E os pinhais e as ervas e as casas ardem e aquecem a morte das cinzas

                                                                                                       [frias

Poente no chão com carvão da madrugada longe do verde das agulhas

                                                                                                     [verdes

Das pinhas mansas e bravas, pombas fechadas de lenha

E adormecidos ninhos com ovos de pássaros que de longe trouxeram

                                                            [as longas penas e queriam casar

E tudo se cansa no fogo

E tudo adormece nos corações indiferentes

Que podem bolçar o sangue de fogo cansado

E minha loucura não traz água que o fogo domine

Deixa morrer as pombas de lenha e as agulhas verdes

As pombas pinhas que eu procurava na infância e calava nas mãos

                                                                                            [pequenas

Escutando ovos de acordados ninhos

Numa terra que foi doçura enquanto terra e eu pequena

Pequena sem infância mas com terra inocente de pinheiros que

                                                                            [cheiravam a resina

Pequena a infância que pegava nas agulhas caídas no chão

E fazia colares de agulhas verdes agulhas que eram para a cama do

                                                                                                  [gado

Calor dos bois vermelhos de terra

E era o cheiro do gado, o seu cheiro de urina, de leite e de bosta seca

E uma postura serena

Os arcos dos seus chifres floridos de ternura mansa

E minha avó erguida soprava um búzio como se estivesse em caça real

Erguia sua pobreza feita de panos pretos e chamava para o jantar

Os servos que não tinha num eco de tempos

E hoje tudo arde na memória, arde o arco da sala pobre

Seu único luxo e quadro das idades em que apareciam as idades

Cinco degraus de cada lado da escada em ângulo agudo

Cada degrau dez anos até ao morrer

E minha avó morreu e o quadro não foi no seu caixão mas ninguém o

                                                                                             [guardaria

Para  o meu quarto e de minha irmã havia um degrau de pinho

E no degrau já cheiravam os lençóis de linho grosso

E o canto do folhelho pisado, único canto que me adormeceu

Ressonam os animais bois na corte sobre as agulhas dum meu colar

E minhas pombas de lenha dormem longe no orvalho

E meu colar hoje é de fogo e minha garganta de fogo se cala

E minhas mãos agora são grandes e seguram pombas de sangue que

                                                           [foram lenha do pinhal orvalhado

E minha loucura mansa vai passear os bois pelo caminho velho

Até à fonte do real

E diz adeus às crianças tristes que têm o pai em França

E às outras que são pobres também de outras orfandades

E o sino da igreja toca, toca a finados e derrama silêncio

E eu vou dar de beber aos bois e oiço o búzio que a minha avó soprou

E o som atravessa os pinheiros verdes até ao rio até à raia

E os olhos dos bois já bebem fogo e são toiros de raiva abraçada a

                                                                               [fronte em cornos

Simétrica lira que ninguém sabe dedilhar

E minha avó que nunca me tratou por tu, pergunta humilde já

                                                                                        [sabendo:

- Neta, porque é que você chora tanto?

 

                                   MATILDE ROSA ARAÚJO (1921-2010)

publicado por flordocardo às 02:31
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