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RICOCHETE
Que margens têm os rios
para além das suas margens?
Que viagens são navios?
Que navios são viagens?
Que contrário é uma estrela?
Que estrela é este contrário
de imaginarmos por vê-la
tudo à volta imaginário?
Que paralelas partidas
nos articulam os braços
em formas interrompidas
para encarnar um espaço?
Que rua vai dar ao tempo?
Que tempo vai dar à rua
onde o relógio do vento
pára na hora da lua?
Que palavra é o silêncio?
Que silêncio é esta voz
que num soluço suspenso
chora cá dentro de nós?
Que sereia é o poente,
metade não sei de quê
a pentear-se com o pente
do olhar finito que o vê?
Que medida é o tamanho
de estar sentado ou de pé?
Que contraste torna estranho
um corpo à alma que é?
Natália Correia (1923-1993)
(do livro «As Maçãs de Orestes» - Publicações Dom Quixote, Lisboa, Julho de 1970)