07
Set 10

 

 

O ministro das Finanças afirmou ontem que a intenção do governo quanto À TAP subsiste; quer dizer, o governo mantém de pé o objectivo de vir a alienar a privados parte da posição accionista que o Estado português detém na dita empresa.

Dias antes, ficaramos a saber que a TAP batera este ano recordes no transporte de passageiros. E, ainda umas horas antes, ficaramos também a saber que o presidente da TAP voltara a reafirmar a necessidade da dita privatização, em entrevistas dadas ao «Diário Económico» e à ETV (Canal 200 da Zon). Detenhamo-nos um bocadinho nestas entrevistas prestadas pelo senhor Fernando Pinto.

O que o senhor nos dias é que a privatização da TAP é necessária, por ser imperioso recapitalizar a empresa. Como o Estado não pode proceder a essa recapitalização por determinações de Bruxelas, então a privatização é a solução. Acrescenta o senhor Pinto que, assim feita a coisa, a TAP passará a ser «uma empresa normal».

Isto é obra, meus caros amigos!!!

 

Vejamos. O Estado não pode refinanciar, injectar capital na TAP; porém, em contrapartida, o Estado, à custa dos contribuintes, pode arcar com os prejuízos acumulados pela TAP! Sobre isto o senhor Pinto nada diz, pelo que não deve ter opinião...

Quanto à «empresa normal», vejamos... O que será para o senhor Pinto uma «empresa normal»? Conclui-se por dedução lógica que será uma empresa essencialmente privada, onde se possa injectar dinheiro, que seja bem gerida, que dê lucros e, claro está, dividendos aos accionistas. Tudo coisas, pelos vistos, que só os privados têm o dom congénito de saber fazer bem... Donde se concluiu que tudo o resto serão «empresas anormais»!

 

Pois é com anormais destes (como diria um tio meu) à frente dos destinos da TAP (e não só!) que Portugal irá de vento em popa! Tenham fé que sim! 

 

tap-novo-voo

 

(Adenda - O senhor Pinto termina o seu mandato em 2011 e manifesta o desejo de, até lá, ter o assunto da privatização resolvido...)

 

publicado por flordocardo às 22:19

 

(mais um episódio da saga de recordar)

 

publicado por flordocardo às 15:39
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*   * 

 

Disciplina

 

O trabalho começa ao romper do dia. Mas nós começamos,
um pouco antes do romper do dia, a reconhecer-nos
nas pessoas que passam na rua. Ao descobrir os raros
transeuntes, cada um sabe que está sozinho
e que tem sono — perdido no seu próprio sonho,
cada um sabe no entanto que com o dia abrirá os olhos.
Quando a manhã chega, encontra-nos estupefactos
a fixar o trabalho que agora começa.
Mas já não estamos sozinhos e ninguém mais tem sono
e pensamos com calma os pensamentos do dia
até que o sorriso vem. Com o regresso do sol
estamos todos convencidos. Mas às vezes um pensamento
menos claro — um esgar — surpreende-nos inesperadamente
e voltamos a olhar para tudo como antes do amanhecer.
A cidade clara assiste aos trabalhos e aos esgares.
Nada pode turvar a manhã. Tudo pode
acontecer e basta levantar a cabeça
do trabalho e olhar. Rapazes que se escaparam
e que ainda não fazem nada passam na rua
e alguns até correm. As árvores das avenidas
dão muita sombra e só falta a erva
entre as casas que assistem imóveis. São tantos
os que à beira-rio se despem ao sol.
A cidade permite-nos levantar a cabeça
para pensar estas coisas, e sabe bem que em seguida a baixamos. 

                                          CESARE PAVESE (Itália, 1908-1950) 

 

(do livro «Trabalhar Cansa» - tradução de Carlos Leite, Livros Cotovia)

publicado por flordocardo às 00:50
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