Não sei (não sei?!!!) o que vai resultar do Conselho de Ministros extraordinário desta tarde. Mas não auguro nada de bom...
O certo é que, entretanto (mesmo que avisados antecipadamente), os dirigentes sindicais que temos continuam a apostar em manifestações, paralisações(zinhas) e concentrações, onde de um modo geral se comprazem em que compareçam eles próprios e mais uns amigos, e não a massa dos trabalhadores...
Greve Geral? Isso deve ser só depois da queda no abismo se ter consumado...
Com estes dirigentes o movimento sindical português caminha para a completa irrelevância!
(Nota: Depois da Manifestação Nacional que em 29 de Maio reuniu em Lisboa cerca de 300 mil pessoas, a CGTP estima para a concentração de hoje, no Marquês de Pombal, a presença de 30 mil pessoas... Fixe, não é?...)
(mais uma antiguidade para a saga de recordações deste mês)
* * *
MÃE
Mãe, eu quero ir-me embora – a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram –
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.
Mãe, eu quero ir-me embora – os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim – tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.
Mãe, eu quero ir-me embora – nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique –
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.
Mãe, eu vou-me embora – esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua – a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste que um dia chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, não as verei murchar.
Maria do Rosário Pedreira (n. 1959)
(do livro «O Canto do Vento nos Ciprestes»)
Este poema (que nos põe a engolir em seco, acho eu) é dito de forma maravilhosa e enriquecedora pela própria autora (o que não é muito usual) no fecho do disco de Aldina Duarte intitulado «Mulheres ao Espelho». É uma pena não conseguir encontrar na net essa preciosidade para vos dar a conhecê-la aqui. Fica o poema escrito, belíssimo.