29
Set 10

 

 

1. Se é verdade aquilo que alguns jornais noticiaram, o Ministério da Educação está a oferecer lugares para "auxiliares de educação" e "assistentes operacionais" (gosto desta dos "operacionais"...), os quais lugares serão remunerados com um salário bruto de três euros por hora.
Haverá candidatos? Talvez. Mas o que é relevante, mais uma vez, é o facto dos salários deste país estarem a descer para níveis dignos dos da industriosa China, dando o próprio Estado o "exemplo"... Como não vi nenhum desmentido por aí...
2. Como isto vai de vento em popa (quer dizer, como um mal nunca vem só...), o Governo acaba de anunciar medidas extraordinárias e mais uma vez "salvadoras" (umas imediatas, outras para 2011): aumento do IVA de 21 para 23 por cento; redução de pelo menos 5 por cento nos salários dos trabalhadores do Estado que ganhem acima dos 1500 euros; congelamento dos investimentos públicos; cortes no Abono de Família e congelamento das pensões; transferência do fundo de pensões da PT para o Estado (1,6 mil milhões de euros), etc., etc.
3. E o Governo escolheu o timing certo para anunciar tais brutalidades: significativamente, o dia em que algumas dezenas de milhar de trabalhadores e dirigentes sindicais se manifestaram em Lisboa e no Porto, e em que a direcção da CGTP titubeou mais uma vez quanto a saber se convoca ou não uma Greve Geral Nacional contra esta política rapace do capital e seus serventuários... E se bem me lembro, acho que a direcção da CGTP também fez parte daquele coro de basbaques que considerou uma «vitória da esquerda» a vitória do PS do Engº. Sócrates nas legislativas de Fevereiro de 2005... Pois é...
4. Há muito trabalho pela frente e isto não vai ficar assim!!!
 
(PS - Ah, ia-me esquecendo. Na segunda-feira passada, à saída do encontro com o PR, a esquerda parlamentar (seja lá o que isso seja) declarou, praticamente a uma só voz, não estar interessada numa «crise política» e que tudo faria para a evitar...)
 
publicado por flordocardo às 23:33

 

 

Não sei (não sei?!!!) o que vai resultar do Conselho de Ministros extraordinário desta tarde. Mas não auguro nada de bom...

 

O certo é que, entretanto (mesmo que avisados antecipadamente), os dirigentes sindicais que temos continuam a apostar em manifestações, paralisações(zinhas) e concentrações, onde de um modo geral se comprazem em que compareçam eles próprios e mais uns amigos, e não a massa dos trabalhadores...

 

Greve Geral? Isso deve ser só depois da queda no abismo se ter consumado...

Com estes dirigentes o movimento sindical português caminha para a completa irrelevância!

 

(Nota: Depois da Manifestação Nacional que em 29 de Maio reuniu em Lisboa cerca de 300 mil pessoas, a CGTP estima para a concentração de hoje, no Marquês de Pombal, a presença de 30 mil pessoas... Fixe, não é?...)

 

 

 

publicado por flordocardo às 15:20

 

(mais uma antiguidade para a saga de recordações deste mês)

 

publicado por flordocardo às 12:36
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*   *   *

 

MÃE

 

Mãe, eu quero ir-me embora – a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram –
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.

Mãe, eu quero ir-me embora – os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim – tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.

Mãe, eu quero ir-me embora – nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sozinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique –
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.

Mãe, eu vou-me embora – esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua – a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias

foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão

tão grande, e as rosas que disseste que um dia chegariam

virão já amanhã, mas desta vez, não as verei murchar.

 

                                                         Maria do Rosário Pedreira (n. 1959)

  (do livro «O Canto do Vento nos Ciprestes»)

  

Este poema (que nos põe a engolir em seco, acho eu) é dito de forma maravilhosa e enriquecedora pela própria autora (o que não é muito usual) no fecho do disco de Aldina Duarte intitulado «Mulheres ao Espelho». É uma pena não conseguir encontrar na net essa preciosidade para vos dar a conhecê-la aqui. Fica o poema escrito, belíssimo.

 

publicado por flordocardo às 12:36
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