A coisa mais espantosa e forte que li este fim-de-semana foi um artigo dado à luz no semanário «Expresso», assinado pelo jornalista Nicolau Santos. Título: «Discutamos a saída do euro».
Não, não foi escrito por alguém da "esquerda radical" (chavão muito usual que nada quer dizer), mas por Nicolau Santos, o qual costuma tratar de assuntos económicos (e alguém que eu não tenho na conta de "ultraliberal", mas que sei defensor da "economia de mercado").
E o que diz Nicolau? Diz que é preciso «abrir uma enorme discussão pública em trono da nossa participação na moeda única».
Vejam…
«Nos últimos dias a produção académica económica tem vindo num crescendo. E há algumas conclusões comuns. Uma delas é que o problema se resolveria se a Alemanha saísse do euro (esta, digo eu, é mesmo para rir!). A moeda comum europeia desvalorizaria de imediato, dando um balão de oxigénio às economias aflitas. Mas, como é óbvio, a Alemanha, fundadora do euro e motor da economia europeia, não aceitará tal sugestão. Há quem sustente que, então, a Alemanha tem de aumentar a sua procura interna, porque se na Europa há défices orçamentais é porque há quem dentro do mesmo espaço acumule excedentes (caso dos germânicos).»
E ponderando a nossa saída do euro, diz mais adiante:
«Passaremos muitas privações. Mas estaremos de volta ao fim de dois anos e de novo com vários instrumentos macroeconómicos para lidar com crises iguais. Como contrapartida, perderemos o guarda-chuva europeu, os juros baixos, os fundos, as vantagens da integração e corremos o risco de estarmos mais vulneráveis a novas indisciplinas orçamentais dos nossos políticos. Mas integrados na zona euro era suposto isso não acontecer e vejam o que se passou.»
Este “pensar em voz alta” de Nicolau suscita-me um desagradável formigueiro pelo corpo…
Então vamos lá a ver… O que é que costuma suceder quando um tacho de ferro choca com uma panela de barro (uma economia forte contra outra mais fraca)? O euro não é o marco alemão disfarçado com outro nome? E quando largámos o escudo pelo euro não se sabia que iríamos perder um instrumento fundamental - de política macroeconómica e de soberania - como o de poder desvalorizar ou valorizar a moeda? De que lado estava Nicolau na altura da adesão ao euro?
Tanta perguntação até a mim me deixa cansado… Mas uma coisa é certa: a simples admissão, que hoje começa a ser feita, de que um erro (se fosse só um…) terá sido cometido é acto que revela bem que alguns tinham razão quando levantaram o problema - enquanto outros andavam a dormir ou fingiam dormir… E é coisa igualmente que não deixa de revelar a confusão e a cagufa que vai na cabeça de uns quantos artistas da nossa praça – sobretudo políticos burgueses e esses outros burgueses entusiastas das ciências ocultas que dão pelo nome de «economistas».
Cá para mim, se não arrasarmos uns e outros, arrasam-nos eles a nós!