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Saída. Fim de tarde. Já ontem foi assim: declina o sol com uma luz tremenda, ilumina a ouro o ouro das árvores.
Quanto ao mais… Tenho tanta coisa para fazer e não sei que fazer da minha vida.
Apesar disto, algo de curioso, estranho e ao mesmo tempo fascinante tem sucedido nos últimos dias. Foram três encontros casuais e sucessivos com antigos companheiros de escola. Um, na Rua do arsenal; outro, na Rua do Ouro; o último, num restaurante em Algés, na passada segunda-feira. Todos me reconhecem (eu não), todos sabem o meu nome (eu não sei o deles), todos se lembram de mim por uma qualquer razão particular: os poemas que eu escrevia, os livros que eu lia e lhes dava a ler, uma festa de anos, coisas assim e outras que nem sei - e, provavelmente, nunca chegarei a saber.
Há nisto algo que me espanta, me perturba e encanta ao mesmo tempo (não acham compreensível?). E até já dei por mim a pensar que, por qualquer motivo se estão a despedir de mim (o que é um pouco tétrico, convenhamos), e/ou me agradecem algo que eu nunca tive a consciência de lhes dar, mas que efectivamente lhes terei dado.
Seja como for, o que vou eu fazer da minha vida? Como vou carregá-la para diante? Em boa verdade, talvez isso interesse muito pouco, agora que declina o sol com uma luz tremenda.
(Nota - «declina o sol com uma luz tremenda» era suposto, inicialmente, ser o primeiro verso de um poema a escrever; mas deu nisto.)
Lisboa, 26.10.2010 (18.40h)