30
Nov 10

 

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Numa grande manifestação pública que, no passado dia 27, reuniu em Dublin mais de cem mil pessoas, o Secretário-geral do Congresso dos Sindicatos Irlandeses, David Begg, pronunciou-se claramente pelo repúdio da dívida pública. Eis algo que os nossos sindicalistas se recusam vergonhosamente a fazer. Foram as seguintes as palavras proferidas pelo referido sindicalista irlandês:
«Bem, os nossos galantes aliados na Europa chegaram 95 anos atrasados sem serem convidados, e em lugar de armas para apoiar a nossa revolução de então, trouxeram agora armas de destruição maciça. Há alguém neste país que pense que nós, como povo, podemos pagar 6,7% por dinheiro que, em primeiro lugar, nós não pedimos e que além disso nos é imposto para salvar o sistema financeiro da Europa, ao qual o país está empenhado em 509 biliões de euros? Não podemos pagar esse dinheiro e não vamos pagar esse dinheiro!»
Simples e objectivo.

Parece (pelo menos parece, o que já não é mau) que estes sindicalistas lá da Irlanda foram feitos noutro "molde", não é? 

 

publicado por flordocardo às 23:03

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Vistas a coisas mais friamente e com mais elementos disponíveis, a greve geral do passado dia 24 saldou-se por uma meia-vitória para os trabalhadores portugueses ou, se quisermos, talvez por um ensaio geral para uma nova acção sobre a qual se possa vir mesmo a clamar futuramente vitória.

Porque digo isto? Bem… É que se esta greve geral constituiu um passo em frente, a verdade também é que ela, no contexto actual, podia e devia ter sido bem mais forte.

Tendo por certo superado a adesão verificada em 1988, a presente greve geral obteve no sector privado da economia uma adesão que ficou aquém das expectativas, facto que as centrais sindicais não conseguiram totalmente esconder.

Indaguei da coisa aqui e ali e verifiquei que se exceptuarmos a Autoeuropa, a Renault-Cacia (sector automóvel), os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o Arsenal do Alfeite, a Lisnave (sector metalúrgico), a Atlantis/Vista Alegre e a Cinca, por exemplo, pouco mais de relevante se verificou quanto à greve no sector privado da economia. Pouco ou nada se sabe sobre o sector têxtil, sobre o sector corticeiro, sobre o sector da alimentação e bebidas, sobre o sector da hotelaria e turismo, entre outros. As próprias centrais nos seus sites não apresentam dados sobre o assunto…

Na minha maneira de ver (e sendo ainda assim evidente para mim que muito gente apoiou a greve, mesmo não a fazendo por uma ou outra razão) isto fica a dever-se ao facto dos objectivos da greve, não tendo sido claros - ou correctos, para ser mais preciso -, terem criado uma falsa unidade entre os que resolveram aderir a esta jornada de luta, e não mobilizando outros trabalhadores que podiam e deviam ter sido chamados a ela.

«Mudar de políticas» é (foi!), no mínimo, um fraco objectivo para esta greve geral. Alguém crê, sinceramente, que o actual governo seja capaz de mudar de políticas em prol dos trabalhadores? Só um tolo! Ora este objectivo tolo minou a unidade de objectivos políticos que a greve geral devia ter assumido, desde logo este: o derrube do governo!

Um tal objectivo podia não chamar à greve geral os juízes e os magistrados do Ministério Público, por exemplo; mas teria chamado a ela muitos mais operários têxteis, metalúrgicos, etc. E o que era mais importante? Ter na greve geral os primeiros ou os segundos? A resposta parece-me por demais óbvia.

É nesta linha oportunista que se continua a insistir - o que, consequentemente, só pode conduzir à desmobilização. Atentem neste excerto de um comunicado da CGTP, em jeito de balanço, emitido no próprio dia da greve geral:

 

«É tempo de o Governo cumprir Acordos estabelecidos, desde logo, assegurar a actualização do Salário Mínimo para 500 Euros em 2011.  

É tempo de negociar com os sindicatos a reposição de protecções aos desempregados e aos mais carenciados, bem como, a melhoria das pensões de reforma, desde logo, para aqueles que vivem mais dificuldades.  

É tempo de o Governo dialogar e negociar com os sindicatos não a aplicação de programas de empobrecimento, desemprego e recessão económica, mas sim a dinamização do aparelho produtivo, os compromissos necessários para uma produção de bens úteis ao desenvolvimento da sociedade, a melhoria da produção da riqueza e das capacidade competitivas da nossa economia.

Compete ao Governo afirmar e assegurar o direito a emprego com direitos, tratar os portugueses com equidade e garantir uma justa distribuição da riqueza produzida. É tempo de uma efectiva mudança de rumo!»

 

Ou seja: se a greve geral foi tão vitoriosa como a CGTP reclama, então porque é que à saída da greve se “reivindica” a actualização do salário mínimo, coisa que, aliás, já tinha sido acordada há meses atrás entre o governo, os sindicatos e o patronato? Isto cabe na cabeça de alguém?... E depois continua-se - o que ainda é mais espantoso - a reclamar “diálogo” e que o governo “mude” e “garanta” uma “justa distribuição da riqueza produzida” (quando o governo Sócrates foi daqueles que mais agravou as desigualdades!)…

Com gente desta (e para já não falar nos senhores da direcção da UGT, os quais desde o primeiro momento fizeram questão de vincar que a greve não se destinava a derrubar o governo, pois este era “legítimo”…), com gente desta, dizia eu, estamos fritos!!!

Os trabalhadores portugueses devem retirar desta jornada de luta as devidas lições e partir para outra; para outra greve geral que efectivamente mude o rumo das coisas na luta política que é preciso travar sem medo. Sem medo e, é claro, com outros objectivos e outra direcção política!

Isso está nas nossas mãos. Faça-se por todo o lado um balanço sério da greve geral do passado dia 24 de Novembro. E façamos em breve desta meia-vitória uma VITÓRIA!

Se assim não suceder, em Março ou Abril de 2011 teremos, com ou sem FMI em Portugal, um novo plano de «austeridade» em marcha para nos levar à total miséria e ao garrote.

Dito isto, façam a gentileza de concordar ou de discordar (aproveitem o feriado).

 

(Adenda - Se no dia 26, sobre este mesmo assunto, malhei nos detractores da greve geral, eis que neste post malho nos "vitoriosos" da dita. Em qualquer dos casos, porém, julgo ter sido justo o que expressei. Ou seja: os posts completam-se um ao outro.)

 

publicado por flordocardo às 18:36

publicado por flordocardo às 12:43
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SONETO AINDA QUE NÃO

 

Como quando indiscreto às coisas me insinuo

e de infinito amor lhes dou sentido

que de mim próprio é voz e precisão

de ser um ser que sendo as reconhece,

me vejo ambíguo e distraído e firme

na vã presciência que, rememorada,

é como um estar por sempre ininterrupto,

aliciando humanamente as coisas.

 

Mas, meu amor, por ti tudo contemplo.

Por ti penetro como em ti em tudo

e torno realidade este fortuito

encontro permanente de que vivo.

 

Se noutro mundo fôra que existisses

eu te criara neste e às minhas coisas

 

                                   Jorge de Sena (1919-1978)

 

(do livro «Jorge de Sena, Poesia-III» - Moraes Editores, Lisboa, Maio/1978)

 

publicado por flordocardo às 00:19
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29
Nov 10

 

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«A experiência é o nome que damos aos nossos erros.»
                                                                        Oscar Wilde

publicado por flordocardo às 12:16
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Pelos vistos o governo português vai avançar com reformas estruturais significativas na Saúde, nos Transportes e nas Leis Laborais.

 

As novidades foram avançadas este domingo, em Bruxelas, pelas autoridades europeias, no final de uma reunião extraordinária dos ministros das Finanças da zona euro destinada a definir a “ajuda” à Irlanda (e perante o silêncio do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, sobre o assunto).

 

«Felicitamo-nos pela intenção de Portugal anunciar reformas estruturais significativas no sector da Saúde e dos Transportes, e a reforma do quadro orçamental cuja execução será acompanhada por novas autoridades no seio desse processo português», declarou Didier Reynders, presidente do Ecofin.

 

Depois destas afirmações, também o comissário Olli Rehn saudou as medidas anti-défice em curso em Portugal, aludindo também a importantes reformas no mercado de trabalho.

 

Recorde-se que ainda na passada sexta-feira, o líder parlamentar socialista, Francisco Assis, rejeitou categoricamente qualquer alteração ao código laboral em vigor durante a presente legislatura…

 

Isto reconduz-nos a voltar a falar da greve geral do passado dia 24 e dos novos passos a dar, não será? Pois é o que farei mal tenha tempo.

 

publicado por flordocardo às 12:09

28
Nov 10

 

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BOA - António Marinho Pinto vai estar por mais três anos à frente da Ordem dos Advogados, pois venceu expressivamente as eleições do passado dia 26.

 

MÁ - Vai acabar o "Contra-Informação". Acabou mesmo no dia 26!

 

 

publicado por flordocardo às 00:57
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27
Nov 10

 

 

 

        

 

(As palavras têm rosto: ou de silêncio ou de sangue)

 

As palavras têm rosto: ou de silêncio ou de sangue.

O cavalo que nos domina é uma sombra apenas.

Sem sílabas de água, avança até ao outono.

Uma árvore estende os ramos. As nuvens subsistem.

  

O cavalo é uma hipótese, uma paixão constante.

Na rede das suas veias corre um sangue de tempo,

uma árvore se desloca com a alegria das folhas.

Árvore e cavalo transformam-se num só ente real.

  

Eu que acaricio a árvore sinto a força tenaz

da testa do cavalo, a eternidade férrea,

o ser em explosão e eu tão leve folha

 

na sombra deste ser animal vegetal

busco a razão perfeita, a humildade estática,  

a força vertical de ser quem sou e o ar.

 

 

                                 António Ramos Rosa (n. 1924)

 

(do livro «Ciclo do Cavalo» - 2ª. Edição, Edições ASA, Dezembro/204)

 

 

 

publicado por flordocardo às 18:52
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(Uma "tuga" que canta bem que nem ginjas!)

 

publicado por flordocardo às 12:07
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26
Nov 10

 

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E prontos...

 

O Orçamento do Estado para 2011 foi hoje aprovado em votação final global no Parlamento com os votos favoráveis do PS, a abstenção do PSD e os votos contra do CDS-PP, BE, PCP e PEV.

 

Estamos "salvos"! Deus é Grande! E os «mercados» também!!!

 

publicado por flordocardo às 17:30

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