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Há em Portugal cerca de 1 milhão de casas devolutas, e nós achamos normal.
Temos mais de 700 mil desempregados, e achamos normal.
Antigas Escolas Primárias são transformadas em restaurantes e/ou em lares para idosos, e há quem encolha os ombros e ache normal.
Encerram-se Maternidades e Centros de Saúde, e há quem nisso encontre normalidade.
A Magistratura (os juízes), órgão de soberania, cria uma associação sindical (certamente para defender o proletariado das investidas do capital…), e acha-se a coisa normal e até legal.
Temos uma Justiça feita à medida dos ricos e outra à medida dos pobres; só a segunda é que funciona, e achamos normal.
Temos um país que, entre 178 outros países, ocupa o 32º. lugar em matéria de corrupção (segundo o mais recente relatório da Transparency International), e achamos normal.
Temos um sistema bancário que paga uma ninharia de IRC, e achamos normal.
Os salários de quem trabalha são diminuídos, e há quem ache isso normal e imprescindível.
Temos uma dívida pública que serviu para engordar os poderosos, mas a qual os governantes e seus escribas reclamam que seja o povo português a pagar e depressa, e há também gente que acha a coisa normal.
Lisboa vai parar para a Cimeira da NATO, mas os trabalhadores, para o próximo dia 24, dia da Greve Geral, estão a ser compelidos pelo poder a cumprir “serviços mínimos” que são verdadeiramente serviços máximos, e há quem ache isto normal.
Temos um Primeiro-ministro que rasgou todas promessas eleitorais com as quais se fez reeleger, mas que continua em funções, e achamos normal.
Temos um Presidente da República que foi o primeiro e principal artífice executante de um modelo económico completamente falhado e contrário aos interesses populares, o qual agora parece nada ter a ver com o caso e ainda por cima quer ser reeleito, e também há quem ache isso normal.
E temos finalmente - e para não vos maçar mais - um Ministro dos Negócios Estrangeiros a defender uma “grande coligação” (certamente de portugueses honrados…) para “salvar o país”, e também há quem ache tal sugestão normal.
No meio de tanta normalidade, eu diria algo substancialmente diferente: não precisamos de uma “grande coligação”, mas de uma grande (e abrangente) revolução.
Para isso temos que lutar sem medo!
É que o medo não antecipa outra coisa que não seja o regresso paulatino do fascismo (ainda não repararam que ele está aí em movimento?...). É que o normal é tudo menos normal. Não se pode continuar a encolher os ombros e a tomar por normal aquilo que é anormal.
Um amigo meu, que é professor, diz que quer viver numa escola onde seja permitido sair da fila. Pois é… E já dizia alguém antes de mim e dele: para se fazerem omeletas é preciso partir os ovos.
Parta-se então o primeiro ovo já no dia 24, com a Greve Geral.