27
Nov 10

 

 

 

        

 

(As palavras têm rosto: ou de silêncio ou de sangue)

 

As palavras têm rosto: ou de silêncio ou de sangue.

O cavalo que nos domina é uma sombra apenas.

Sem sílabas de água, avança até ao outono.

Uma árvore estende os ramos. As nuvens subsistem.

  

O cavalo é uma hipótese, uma paixão constante.

Na rede das suas veias corre um sangue de tempo,

uma árvore se desloca com a alegria das folhas.

Árvore e cavalo transformam-se num só ente real.

  

Eu que acaricio a árvore sinto a força tenaz

da testa do cavalo, a eternidade férrea,

o ser em explosão e eu tão leve folha

 

na sombra deste ser animal vegetal

busco a razão perfeita, a humildade estática,  

a força vertical de ser quem sou e o ar.

 

 

                                 António Ramos Rosa (n. 1924)

 

(do livro «Ciclo do Cavalo» - 2ª. Edição, Edições ASA, Dezembro/204)

 

 

 

publicado por flordocardo às 18:52
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(Uma "tuga" que canta bem que nem ginjas!)

 

publicado por flordocardo às 12:07
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