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Vistas a coisas mais friamente e com mais elementos disponíveis, a greve geral do passado dia 24 saldou-se por uma meia-vitória para os trabalhadores portugueses ou, se quisermos, talvez por um ensaio geral para uma nova acção sobre a qual se possa vir mesmo a clamar futuramente vitória.
Porque digo isto? Bem… É que se esta greve geral constituiu um passo em frente, a verdade também é que ela, no contexto actual, podia e devia ter sido bem mais forte.
Tendo por certo superado a adesão verificada em 1988, a presente greve geral obteve no sector privado da economia uma adesão que ficou aquém das expectativas, facto que as centrais sindicais não conseguiram totalmente esconder.
Indaguei da coisa aqui e ali e verifiquei que se exceptuarmos a Autoeuropa, a Renault-Cacia (sector automóvel), os Estaleiros Navais de Viana do Castelo, o Arsenal do Alfeite, a Lisnave (sector metalúrgico), a Atlantis/Vista Alegre e a Cinca, por exemplo, pouco mais de relevante se verificou quanto à greve no sector privado da economia. Pouco ou nada se sabe sobre o sector têxtil, sobre o sector corticeiro, sobre o sector da alimentação e bebidas, sobre o sector da hotelaria e turismo, entre outros. As próprias centrais nos seus sites não apresentam dados sobre o assunto…
Na minha maneira de ver (e sendo ainda assim evidente para mim que muito gente apoiou a greve, mesmo não a fazendo por uma ou outra razão) isto fica a dever-se ao facto dos objectivos da greve, não tendo sido claros - ou correctos, para ser mais preciso -, terem criado uma falsa unidade entre os que resolveram aderir a esta jornada de luta, e não mobilizando outros trabalhadores que podiam e deviam ter sido chamados a ela.
«Mudar de políticas» é (foi!), no mínimo, um fraco objectivo para esta greve geral. Alguém crê, sinceramente, que o actual governo seja capaz de mudar de políticas em prol dos trabalhadores? Só um tolo! Ora este objectivo tolo minou a unidade de objectivos políticos que a greve geral devia ter assumido, desde logo este: o derrube do governo!
Um tal objectivo podia não chamar à greve geral os juízes e os magistrados do Ministério Público, por exemplo; mas teria chamado a ela muitos mais operários têxteis, metalúrgicos, etc. E o que era mais importante? Ter na greve geral os primeiros ou os segundos? A resposta parece-me por demais óbvia.
É nesta linha oportunista que se continua a insistir - o que, consequentemente, só pode conduzir à desmobilização. Atentem neste excerto de um comunicado da CGTP, em jeito de balanço, emitido no próprio dia da greve geral:
«É tempo de o Governo cumprir Acordos estabelecidos, desde logo, assegurar a actualização do Salário Mínimo para 500 Euros em 2011.
É tempo de negociar com os sindicatos a reposição de protecções aos desempregados e aos mais carenciados, bem como, a melhoria das pensões de reforma, desde logo, para aqueles que vivem mais dificuldades.
É tempo de o Governo dialogar e negociar com os sindicatos não a aplicação de programas de empobrecimento, desemprego e recessão económica, mas sim a dinamização do aparelho produtivo, os compromissos necessários para uma produção de bens úteis ao desenvolvimento da sociedade, a melhoria da produção da riqueza e das capacidade competitivas da nossa economia.
Compete ao Governo afirmar e assegurar o direito a emprego com direitos, tratar os portugueses com equidade e garantir uma justa distribuição da riqueza produzida. É tempo de uma efectiva mudança de rumo!»
Ou seja: se a greve geral foi tão vitoriosa como a CGTP reclama, então porque é que à saída da greve se “reivindica” a actualização do salário mínimo, coisa que, aliás, já tinha sido acordada há meses atrás entre o governo, os sindicatos e o patronato? Isto cabe na cabeça de alguém?... E depois continua-se - o que ainda é mais espantoso - a reclamar “diálogo” e que o governo “mude” e “garanta” uma “justa distribuição da riqueza produzida” (quando o governo Sócrates foi daqueles que mais agravou as desigualdades!)…
Com gente desta (e para já não falar nos senhores da direcção da UGT, os quais desde o primeiro momento fizeram questão de vincar que a greve não se destinava a derrubar o governo, pois este era “legítimo”…), com gente desta, dizia eu, estamos fritos!!!
Os trabalhadores portugueses devem retirar desta jornada de luta as devidas lições e partir para outra; para outra greve geral que efectivamente mude o rumo das coisas na luta política que é preciso travar sem medo. Sem medo e, é claro, com outros objectivos e outra direcção política!
Isso está nas nossas mãos. Faça-se por todo o lado um balanço sério da greve geral do passado dia 24 de Novembro. E façamos em breve desta meia-vitória uma VITÓRIA!
Se assim não suceder, em Março ou Abril de 2011 teremos, com ou sem FMI em Portugal, um novo plano de «austeridade» em marcha para nos levar à total miséria e ao garrote.
Dito isto, façam a gentileza de concordar ou de discordar (aproveitem o feriado).
(Adenda - Se no dia 26, sobre este mesmo assunto, malhei nos detractores da greve geral, eis que neste post malho nos "vitoriosos" da dita. Em qualquer dos casos, porém, julgo ter sido justo o que expressei. Ou seja: os posts completam-se um ao outro.)