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Dez 10

* 

 

Eis mais dois poemas encontrados no meu velho computador não portátil, no qual há tanto tempo não mexia (ver post de 1 de Dezembro).

O primeiro tem data e tenho quase a certeza que foi publicado algures, por aí - não lembro onde e em que momento.

O segundo, é por certo uns anos mais antigo; já levou tantas voltas e reviravoltas que lhe perdi a data original. Acontece. Fica aqui agora, na forma que julgo ser a definitiva.

 

E vocês, continuem por aí.

 

*

 

I

 

Quando as mãos não têm onde pousar

os dedos onde penetrar

e as mãos tremem

limitam-se a tremer e a mostrar-se inúteis

imagino que os olhos choram

as costas se curvam

os ombros desfalecem até ao outro dia

até ao meio-dia do outro dia

 

II

 

É preciso encontrar um lugar terno e afoito para as mãos

um lugar de origem

uma espécie de lugar eterno a existir

Claro

morremos para sempre

Mas de gostar-se ou não da vida

depende muita morte e o olhar

com que a fitamos regularmente

Acontece gostar-se

e gosta-se do modo

como por dentro dos olhos o vermelho cresce

 

III

 

As coisas acontecem pelo olhar

É um modo como qualquer outro

embora menos desprendido

É claro que morremos

e esquecemos

depressa ou devagar esquecemos

Porém como as mãos

olhar é coisa partilhável e que fica

como um modo expedito de estremecer a vida

 

*   * 

  

           SEM TÍTULO(s)

 

           Havia tudo na claridade do seu rosto

 

Os que a dor levou…

 

Os que não conseguem dormir…

 

Os que têm as mãos feridas de si…

 

Os que nascem famintos e assim morrem…

 

Os que sobrevivem remoendo…

 

Os que têm as lágrimas todas nos ombros…

 

Os que gritam com as unhas na carne…

 

Os que não aceitam o mundo…

 

Os que não têm voz plena…

 

Os que têm a verdade sob a língua…

 

Os que dedilham os lábios com urtigas…

 

Os que venceram queimando a boca…

 

Aqueles que caiem de borco no silêncio…

 

           Havia...

           Já não há?

 

                                   (Cruz-Quebrada, 28.11 - 06.12.2004)

            

publicado por flordocardo às 18:54

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