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Dez 10

 

*    *

Remexendo ainda no meu velho computador, deparo com este poema. Constato depois que o mesmo viu pela primeira vez a luz do dia no jornal «Luta Popular», edição de Julho de 2008. Continuo a achá-lo muito actual e por isso aqui o deixo, ainda que em 2ª. mão.

 

sangue.jpg

 

  

 

 

SINAL

 

 

 

 

Em contraste com as negras águas

que se acumulam nas ruas

o sangue tornou-se invisível

sem cotação no mercado

do «mercado livre»

 

O sangue foi tapado

silenciado

homogeneizado

pasteurizado

reutilizado em cubos de gelo

para cocktails com powerpoint

 

O sangue tornou-se

uma nódoa imprevista

e lavada

raspada

tornada a lavar

posta ao ar

para que o sol a seque

 

O sangue não é nada

para além de uma réstia na memória

breve menção no dicionário de uma língua

em coma - e que ainda assim se põe à venda

 

O sangue ficou à margem

televisivo

cinematográfico

como um veludo antigo

 

O sangue não matará

A violência do ar roeu-lhe tudo

 

Mas no quinhão imperceptível que lhe resta

sob o empedrado

lá no fundo

o sangue brilha e tece a conjura

o retorno

 

(Lisboa, Abril/Maio de 2008)

                 

publicado por flordocardo às 00:06

 

*    *

 

«A beleza de um poema não está na capacidade que ele tem de deixar o leitor contente. A poesia é sempre uma surpresa, capaz de nos tirar a respiração por alguns momentos. Ela deve permanecer em nossas vidas como o pôr-do-sol: algo milagroso e natural ao mesmo tempo.» 

                                                                                                                                                                                                                                                               John Keats 
publicado por flordocardo às 00:03
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