23
Dez 10

 

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Querido Pai Natal:

 

Venho interceder junto de ti para que fales com o São Pedro, pois ele não responde aos meus e-mails e às minhas sms.

 

Este tempo está intragável. Isto não é vida para ninguém… Para que tenhamos um Natal melhor, dá-lhe uma palavrinha, ok?

 

Ora faz sol, ora chove; se não chove, faz frio; se vem o frio, acresce o nevoeiro; levanta o nevoeiro, vem a chuva. Nevar? Sempre era diferente, mas está quieto, ó preto… Quem é que aguenta isto?!... Um tipo sai de casa sem saber de deve levar para a rua um gorro, um chapéu de chuva ou um limpa pára-brisas...

 

Isto é pior que cuspir na sopa! Isto é pior que a Júlia Pinheiro a guinchar! Isto é pior que a «Casa dos Segredos»! Isto é pior do que a Vitória já não sobrevoar o relvado do SLB! Isto é pior que o BPN a pedir ao Estado um novo acréscimo de capital! Isto é pior do que o Pinóquio a dizer: «Está tudo bem, eu nunca vos menti e vou salvar-vos do FMI.»

 

Peço-te por tudo: dá uma palavrinha ao teu amigo São Pedro e vê se ele equilibra este tempo. E, se tiveres tempo, livra-me daquelas coisas do parágrafo anterior para o próximo ano. Podes não colocar mais nada no meu sapatinho, mas faz uma forcinha para me livrares daqueles mostrengos (e mais ainda da Fátima Lopes, do Lacão, da Lili Caneças, do Carreira, do Cavaco…)

 

Conto contigo!

Abração e Felicidades!

 

(P.S. – Já sabias que o Tribunal de Menores ordenou a entrega do Menino Jesus ao pai biológico? O mundo está perdido, digo-te eu…)

 

publicado por flordocardo às 15:36
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A PRETO E BRANCO

    Uma mulher encosta-se a um muro, encosta-se à memória. Veste de uma maneira simples, uma blusa, uma saia cobrindo os joelhos, talvez uns tamancos. Tem ainda, amarrado à cabeça, um lenço negro, negros aliás e brancos todos os tons em que se veste, negros os tamancos, um casaco de lã sobre a blusa, negras ainda algumas das riscas da saia, brancas as outras, como a blusa. Encosta-se ao muro aonde cola as costas, os ombros e depois uma das faces, assim é mais fácil ver-lhe o rosto. As mãos encostá-las-ia também se não segurasse um lenço branco. Aperta-o entre os dedos, fá-lo passar entre eles, uma pequena serpente. Ou então amarrota-o, faz das palmas das mãos uma concha onde o esconde, o lenço assim desaparece totalmente, apenas as mãos se vêem projectadas para a frente, dir-se-ia que rezam. Depois sempre ocultando o lenço, levam-no ao rosto novamente de perfil, tudo a preto e branco ainda, ou é o rosto que desce até às mãos, mergulha no lenço, talvez este e a língua se procurem, uma língua pelo lenço adiante, uma língua é provável que vermelha, não, é tudo ainda muito a preto e branco, é tudo ainda demasiado a preto e branco para permitir um pormenor vermelho.

                                                                            Luís Miguel Nava (1957-1995)

 

(do livro «Películas»Moraes Editores, Maio/1979).

publicado por flordocardo às 10:51
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