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Augusta Martinho tinha 88 anos quando foi vista pela última vez. Teria hoje 96 anos. O seu cadáver (bem como o do seu cão) foi descoberto no dia 8, no interior do apartamento que possuía na Rinchoa. Não tenho parado de pensar nisto.
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É macabro, mas também paradigmático no que respeita a saber que país é que temos.
Durante mais de oito anos, Augusta eclipsou-se dos olhares de mais de uma dúzia de vizinhos, de cinco sobrinhos, de um primo, dos agentes do fisco e das forças policiais. Augusta não levantou os vales da pensão da Segurança Social, não pagou as verbas do condomínio nem os seus compromissos fiscais. Augusta ficou a dever ao fisco 1475 euros. Por isso mesmo a Direcção-Geral dos Impostos penhorou o seu apartamento, vendendo-o depois em leilão por cerca de 30 mil euros. Depois sucedeu o que se sabe... E agora é que se está a investigar o que devia ter sido investigado há muito tempo atrás!
Neste país a Segurança Social não investiga a não-liquidação dos vales; neste país vendem-se e compram-se casas sem sequer as ver por dentro; neste país os velhos são trapos imprestáveis que podem morrer em qualquer lado e de qualquer maneira, mesmo aqui ao nosso lado.
Este país não é para jovens, nem para velhos, nem para ninguém. Precisamos de construir outro, dê por onde der e custe o que custar!