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(Ter o destino em aberto)
Ter o destino em aberto
Para o impulso do salto.
Ter sempre o olhar mais perto
Daquilo que está mais alto.
Ter a seiva e ter o fito
Das palavras em semente.
Ter o sonho sempre rente
Aos ombros do infinito.
Ter das coisas todo o lume
Desde o fim ao seu começo.
Ter as mãos que se entreabrem
À ilha que seja berço,
Ao espaço que seja infindo,
À praia que seja o mundo
De um amor que não tem preço
Nem superfície nem fundo.
E seguir no desalinho
Dos navios fora de rumo
Por mares sem endereço.
João Rui de Sousa (n. 1928)
(do livro «Cem poemas sobre Portugal e o Mar» - Ed. Terramar, 2003)