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«A vida nunca deu nada aos mortais sem grandes fadigas.»
Horácio
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«A vida nunca deu nada aos mortais sem grandes fadigas.»
Horácio
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Na alvorada de 18 de Março de 1871, Paris foi despertada por um grito de trovão: VIVE LA COMMUNE!
«A Paris operária, com a sua Comuna, será para sempre celebrada como a gloriosa percursora de uma sociedade nova. A recordação dos seus mártires conserva-se piedosamente no grande coração da classe operária. Quanto aos seus exterminadores, a História já os pregou a um pelourinho eterno, e todas as orações dos seus padres não conseguirão resgatá-los.»
Karl Marx («A Guerra Civil em França» - 30 de Maio de 1871)
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«Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na guerra do Ultramar.»
Cavaco Silva, ontem, no Forte do Bom Sucesso,
assinalando os 50 anos passados sobre o começo da guerra colonial.
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O LAGO
Tão manso é o lago dos teus olhos
que temo avançar a mão
cortar as águas
e semear o espanto
na descoberta
da minha sede antiga.
Ana Paula Tavares (Angola, 1952)
(do livro «Dizes-me coisas amargas como os frutos» - Editorial Caminho/2001)
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Passam hoje 128 anos sobre a morte de Karl Marx.
Ora, depois de ouvir hoje o Primeiro-ministro, ocorreu-me...
«A arma da crítica não pode substituir a crítica das armas.»
Karl Marx (in «Contribuição à crítica da filosofia do direito de Hegel», de 1844)
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GRITAR
Aqui a acção simplifica-se
Derrubei a paisagem inexplicável da mentira
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos
Ponho-me a gritar
Todos falavam demasiado baixo falavam e escreviam
Demasiado baixo
Fiz retroceder os limites do grito
A acção simplifica-se
Porque eu arrebato à morte essa visão da vida
Que lhe destinava um lugar perante mim
Com um grito
Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer
Nada do que merece viver
Estou perfeitamente seguro agora que o Verão
Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas
Ardem no meu coração as estações
As estações dos homens os seus astros
Trémulos de tão semelhantes serem
E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria
E esse fogo nu que me pesa
Torna a minha força suave e dura
Eis aqui a amadurecer um fruto
Ardendo de frio orvalhado de suor
Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham
O tempo está bom gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos
Estou seguro de que a todo o momento
Filha e avó dos meus amores
Da minha esperança
A felicidade jorra do meu grito
Para a mais alta busca
Um grito de que o meu seja o eco.
Paul Éluard (França, 1895-1952)
(do livro «Algumas das Palavras» - tradução de António Ramos Rosa, Editorial Presença)