05
Abr 11

 

*  *

 

O PORTO (*)

 

Sob o ventre dos barcos lençóis de água

em ondas por dentes alvos laceradas.

Chaminés suspirando como se corresse

pelos tubos de bronze amor e incontinência.

Juntavam-se os barcos nos cais de chegada

ao mamilo vasto da sua mãe de ferro.

Nas orelhas moucas dos vapores

abrasavam os brincos das âncoras.

 

(1912)

Vladimir Maiakovski (Rússia, 1894-1930)

 

(*) Neste poema registam-se impressões do porto de Nikoláevski.

 

(do livro «Obras de Maiakovski – Volume I: Eu Próprio - Poesia 1912/1916» - Editora Vento de Leste, Abril/1979)

 

 

publicado por flordocardo às 17:57
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§ § §

 

O NAVIO DE ESPELHOS

 

 

O navio de espelhos
não navega, cavalga

Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível

Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos

(Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele)

Os armadores não amam
a sua rota clara

(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)

Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga

(O seu porão traz nada
nada leva à partida)

Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta

(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)

Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto

(A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto)

Quando um se revolta
há dez mil insurrectos

(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)

E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo

Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)

Do princípio do mundo
até ao fim do mundo


                                   Mário Cesariny (1923-2006)


(do livro «A Cidade Queimada» - Assírio & Alvim)

Gelo e navio.jpg
 

publicado por flordocardo às 01:46
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