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Apesar de todas as manipulações e silenciamentos, a candidatura do PCTP - a única que nestas eleições defendeu inequivocamente o não pagamento da dívida pelo povo português - obteve um excelente resultado que, agora, a comunicação social procura escamotear. Vejamos…
1. O PCTP foi de novo o partido extra-parlamentar mais votado, reforçando a posição de 6º. partido mais votado do espectro político português.
2. O PCTP não só manteve como ampliou a votação obtida nas eleições de 2009. Com os seus quase 63 mil votos, obteve o seu melhor resultado eleitoral de sempre, subindo 10 mil votos relativamente às últimas eleições (onde já alcançara um dos seus melhores resultados).
3. Aliás, entre os partidos da chamada esquerda, o PCTP foi o único que subiu em votos expressos (apesar do aumento do nível da abstenção). De facto, para além da estrondosa derrota do PS de Sócrates, o BE obteve agora menos votos do que em 2005 e o PCP/CDU também perdeu votos relativamente às eleições de 2009.
4. Embora não tendo conseguido ainda a eleição de um deputado pelo círculo eleitoral de Lisboa, o PCTP aumentou de uma vez e meia a sua votação neste distrito, tornando cada vez mais possível o alcançar desse objectivo em próximas eleições.
Por tudo isto, procurar - como têm feito os “politólogos” e “comentadores” nas últimas horas - apresentar estes resultados e estes factos como um qualquer fracasso mais não significa que tentar ocultá-los do povo português e tentar mistificar a realidade.
Mas percebe-se que assim seja, agora que vai ter início a aplicação em pleno das medidas da troika e quando a candidatura do PCTP foi a única a, com toda a clareza, conclamar os trabalhadores portugueses a erguerem-se e a sublevarem-se contra elas!
É obra que agora existam quase 63 mil cidadãos dispostos a travar conscientemente essa luta!
Posto isto, importa dizer algo mais sobre as eleições de ontem. É que para mim, entre os grandes derrotados deste acto eleitoral, para além do PS, está a comunicação social, a qual ficou completamente desmascarada quanto ao papel político e social que cumpre; os seus actos censórios voltaram-se contra si própria! Os chamados «critérios jornalísticos» deram a alma ao criador!
Depois, temos ainda o esvaziamento do BE, depois de, anos a fio, a referida comunicação social ter andado com o mesmo ao colo. Provou-se agora que este partido, com o seu «pragmatismo» e as suas políticas “fracturantes” não consubstancia qualquer alternativa política verdadeira ao capital e ao seu sistema de exploração.
Por outro lado, a vitória da direita é uma vitória de Pirro. Sobretudo porque, na verdade, não há memória de se vir a formar um governo de direita - PSD/CDS-PP - num quadro de tão profunda crise económica, política e social. A solução para tais partidos está na aplicação do programa da troika e esse programa é contra o povo português - pelo que um tal governo vai encontrar uma oposição popular dia a dia mais forte e coesa. Essa oposição é que tem a solução para a crise!
Por último, e em síntese, pode portanto dizer-se que estas eleições nos deram várias vitórias:
1ª. A derrota inequívoca do PS. Ficámos livres de um biombo entre a revolução e a contra-revolução e, simultaneamente, de um crápula chamado Sócrates;
2ª. O facto de nenhum partido, por si só, ter obtido a maioria absoluta de votos e de deputados;
3ª. Nem toda a designada esquerda foi derrotada, pois houve uma força política que, contra tudo e contra todos, viu reforçada a sua votação e a sua orientação política para enfrentar os tempos de sacrifício e de luta que aí vêm. Essa força foi e é o PCTP.
Capacitem-se disto: a luta pelo não pagamento da dívida é a luta pela nossa sobrevivência e é a luta pela nossa emancipação!
Nada vai ficar como está a partir de agora! Organizemo-nos!
Eis, por agora, o que se me oferece dizer-vos. Estou contente e confiante como o caraças!
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Não há morte
Não há morte nem princípios.
Só há um mar onde estivemos e estaremos,
um mar de peixes que são como nós,
que voam quando nascem,
que se afundam quando morrem;
peixes voadores
que saltam à luz
sem chegar a ser anjos.
Só há um mar
e os alegres saltos da vida.
Esta curva no ar,
tão lenta às vezes,
sobre o mar tão cobiçoso,
não é um arco-íris
depois da tormenta,
não é um poente
por onde possa passar ninguém.
A nossa vida desenha
sua ascensão e descida
sobre esse mar humano,
onde a humanidade
realmente vive.
Não há morte nem princípios.
Só há uma árvore grande
que sacode as suas folhas
para nutrir-se delas
quando caiam no chão.
Manuel Altolaguirre (Espanha, 1905-1959)
(em «Mesa de Amigos», versões de poesia por Pedro da Silveira - Assírio & Alvim/2002)