* *
OS TEMPOS QUE AÍ VÊM
Vêm aí tempos ainda mais difíceis
cujo sol não colmatará em pleno
Tempos de cardos e de pedras
tempos sem aparente meridiano
E todavia estaremos aqui
Não teremos como virar a cara
não teremos remédio senão ocupar as mãos
depois de as olharmos profundamente
E entre estilhaços encontraremos o caminho
entre estilhaços o meridiano
a própria voz de cada palavra
o próprio sol de cada voz
Não é assim
velha toupeira?
(Parede, 08-06-2011)
*
(K. Marx dizia que a revolução era como uma «velha toupeira», que circula incessantemente por baixo da terra, sem que se perceba a sua trajectória.
Até que, de repente, irrompe bruscamente na superfície.
Com isso queria dizer que, apesar dos períodos de calmaria, a luta de classes – considerada por ele como o “motor da história” – não se detinha
e surpreendia a muitos, reiteradamente, pelos lugares e formas que assumia.)