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«É sabido, Portugal é um país de bons poetas e maus ministros. Pior do que os habituais estadistas, apenas os poetas quando se tornam políticos. No século XIX, resolvia-se a coisa dando aos bardos do regime a pasta do Mar. A Cavaco Silva a poesia é coisa que não lhe assiste, como se diz agora, mesmo tirando algumas tiradas dignas de um surrealismo tardio sobre o “sorriso das vacas”. Em entrevista à TVI, o Presidente-economista deu como adquirido que Portugal necessita fazer esta política de cortes cegos e que está condenado a perder a sua soberania económica. Alexandre O’Neill era poeta e as sua palavras fizeram a autópsia de um país de governantes medíocres e pessoas cujo silêncio cobarde sustentava qualquer ditadura. “Ah o medo vai ter tudo. Tudo (penso que o medo vai ter tudo e tenho medo que é justamente o que o medo quer). O medo vai ter tudo, que se tudo e cada um por seu caminho havemos todos de chegar quase todos a ratos. Sim, a ratos”, escreveu.
O único argumento que os chanceleres europeus e os nossos governantes têm, para impor uma política que vai destruir a economia de todos para dar mais riqueza a muito poucos, é o medo. Depois do estado de choque, da negação, virá a raiva. E algumas pessoas terão a coragem de dizer que preferem ser livres a ser submissas, mesmo que isso seja um caminho mais difícil. A caminhada começa amanhã (hoje) com as manifestações de 1 de Outubro. Nem toda a gente acha normal ser governada pela Alemanha devido a dívidas que não contraiu e a lucros especulativos que não teve.»
(crónica do jornal "I" de sexta-feira passada, da autoria de Nuno Ramos de Almeida)