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Dez 11
publicado por flordocardo às 16:51

 

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PORCOS – 1


Na minha terra
os porcos engordam, engordam
mas são sempre mortos antes de rebentarem
que os alentejanos é tudo gente pacífica

                                                                  Rui Caeiro (n. 1943)

(do livro «O carnaval dos animais» - Letra Livre, Lisboa/2008)

 

publicado por flordocardo às 03:05
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Os depósitos dos bancos no Banco Central Europeu (BCE) registaram ontem,  pela terceira vez consecutiva, o maior aumento desde há 18 meses.
No total, os bancos da zona euro depositaram desde sexta-feira 332,7 mil milhões de euros no BCE, sendo que na noite de quinta para sexta-feira depositaram 313 mil milhões de euros e na véspera 304 mil milhões.

Estas somas elevadas mostram que os bancos da zona euro não têm confiança uns nos outros. Agora, os bancos preferem fazer aplicações seguras no BCE, mesmo que recebam menos juros, já que a taxa deste está actualmente nos 0,50 por cento.

Na semana passada, os bancos aplicaram no BCE 265 bilhões de euros, tendo somado 38 mil milhões de euros só nos últimos três meses.

 

publicado por flordocardo às 00:36

 

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FOGO, FELPA, FARMACOPEIA

A noite ficou branca uma vez mais.
Nesse luar vazio floresce a rocha,
a silva, o contorno do que nada acolhe.
Subo para a armação de ferro
e fungos e vírus e bactérias
esperam no pousio alagado,
relíquias celestiais, a natureza.
Tiro uma a uma cada roupa
na voltagem do frio, mudo o que fui
por detrás da noite, no pesadelo.

Esmago as folhas da hortelã-brava,
um odor carnívoro que se mistura
à bruma roída dos barcos na lagoa.
Tudo arde nas toalhas que nos limpam,
o sândalo deitado nos lençóis,
a linfa da estopa escura contra a luz.
Cor de açafroa, esse cardo cuja veste
depois de morta é, como nos surge a noite,
macerada.

O arbusto aberto no muro, o varandim
e o trago da chama, o teu retrato. Uma espora
no cerro do penhasco. Dessas coisas
que se perdem antes de lhes tocarmos.
O luar cai além do vidro, no desaire,
no alto morro preto onde este cansaço
por vezes é o deus.

O feixe sombrio lança sobre socalcos
outros socalcos mais escuros, no tecto
de madeira ameaçada, a caminho do saguão,
direito ao que fica por dizer.
Quando atravessa o farol da alvenaria
ilumina-o para dentro, essa parte
partida da revolta de que somos o resto
calcinado, sem fundura, um volume
trazido pela escuridão à despedida
e que não cessa de louvar
nessa alegria lacerada.

É melhor que no outro quarto o corpo,
o meu, o deles, a gruta abafada
da parede sem reboco final,
acenda a noite com suores cobertos
pela lâmpada diminuta.
Que no outro quarto eu esqueça
a languidez suicida, o halo de passos
junto de um sabor, o conforto da derrota
que nos avisa com o longe, o seu esquife,
o bacelo translúcido despedaçado
e a viagem do sono, sem mais querer voltar.

Irão faltar-te as cartas que eu deixava
para tu pores os selos. Meu deus,
que mal faz a morte ao outro a quem
nos tira. Depois de nenhum mal nos fazer já 
a nós.
 

Sempre que falo de noites assim
é o Douro visto da galeria. É Ariz. A minha avó
deu-me depois esta cadeira. Só lhe mudei
a lona. Apenas mudei eu. O pano cru 
com a amarga
simplicidade de tudo.
Cedro a cedro, a violência do que vai
diante de nós, dentro de mim.
Numa selha de zinco davam-me banho
e cantavam para eu não chorar,
é lá possível não chorar.

 

                                      Joaquim Manuel Magalhães (n. 1945)
(do livro «Alta Noite em Alta Fraga» - Relógio d'Água, Lisboa/2001)

 

 

publicado por flordocardo às 00:13
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