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Dez 11

 

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A expressão «bomba atómica» tem, na política, servido para muita coisa. Desta vez serviu para sinalizar a ideia de que não devemos pagar a tão badalada dívida soberana. Mas vamos por partes...

Numa jantarada realizada no último fim-de-semana, o deputado "socialista", líder do PS/Aveiro e vice-presidente da bancada parlamentar do PS, de seu nome Pedro Nuno Santos, abriu a boca para dizer o que lhe ia na alma e a dada altura vociferou contra o pagamento da dita dívida, os credores e o governo. A coisa foi gravada por uma rádio e depressa passou para toda a comunicação (dita) social. Depois, no Parlamento, confrontado com tão bicuda questão, o deputado e"socialista" reafirmou a sua tese, o que aumentou o ruído sobre o assunto.

Mas,afinal, o que disse o deputado? Disse:

«A primeira responsabilidade de um primeiro-ministro é tratar do seu povo. Na situação em que nós vivemos estou-me marimbando para os credores e não tenho qualquer problema enquanto político e como deputado de o dizer. Porque em primeiro lugar, antes dos banqueiros alemães ou franceses, estão os portugueses».

E mais adiante especificou:

«...Nós – os portugueses – temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e franceses: ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos. As pernas dos banqueiros alemães até tremem!».

Eu devo dizer que concordo com o homem. Todavia, há um problema... Pedro Nuno Santos será mesmo capaz de fazer detonar a bomba? Não acredito nisso, e muito menos que a maioria do PS o possa auxiliar nessa tarefa...

Em boa verdade, parece-me a mim, existe um grande abismo entre este não pagamos e o não pagamos que o povo trabalhador português reclama de forma cada vez mais clara e firme. A verdade é que os trabalhadores estão mesmo dispostos a não pagar, enquanto o deputado Pedro Nuno Santos, por mais que grite, não está disposto a tanto, a não ser em circuito fechado (circuito que ele teve o azar de encontrar aberto...).

Por outro lado, enquanto o referido deputado se limita a ameaçar os credores, os trabalhadores querem mesmo aplicar a correcta política do não pagamos!

Temos, de facto, ao alcance das nossas mãos, não uma «bomba atómica», mas antes uma política justa e demolidora: o repúdio total e integral da dívida, o não pagamos!

O caso merece ainda outra observação: evidencia o mau-estar político que grassa dentro do PS (e que já se manifestou também no seio do BE). Portanto, continuemos atentos. E, quanto ao deputado Pedro Nuno Santos, fazemos votos de que o mesmo se deixe de chantagens e, de alma e coração, se junte a nós nesta época de Natal para levar a bom porto a política do não pagamos.

(PS - Hoje, no Parlamento, e perante o silêncio de Pedro Nuno Santos, António José Seguro, líder do PS, reafirmou que o seu partido quer, obviamente, pagar as dívidas...)  

 

 

 

publicado por flordocardo às 22:09

 

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«LADRÕES DE BICICLETAS» - VITTORIO DE SICA (1948)

Mil quilómetros por dia pedalava meu pai, desde
a cama junto ao Douro até à próspera Cerâmica
de Valadares. Se qualquer homem recebe,
à nascença, uns sessenta inimigos por hora,
imaginem a jornada de um operário ciclista.
Tudo são despesas para ele: o rosário de geada
nas giestas, o jornal atropelado pelo vento, o verdor
da Primavera, a poalha do suor em cada mão.

Meu pai, é claro, não se queixa, ganha um conto
de réis, tem uma casa portuguesa e grandes sonhos
de amanhãs a gasolina. Pelo menos não trabalho
em nenhum matadouro, pensa ele, e com razão,
erguido nos pedais do seu veículo de sombra,
solitário trepador pela encosta de Avintes. Não
trabalha em nenhum matadouro. E nesse reconforto
passa à Quinta dos Frades, alcança o Freixieiro,
sente já o rumor de fumacentos camiões na nacional,
onde tudo, depois, será muito mais plano.

                                                            José Miguel Silva (n. 1969)
(do livro «Movimentos no Escuro» - Relógio d'Água, Lisboa/2005)

 

publicado por flordocardo às 17:43
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Betty Carter (EUA, 1929–1998) uma das mais originais cantoras de jazz e uma das minhas preferidas no género.

 

publicado por flordocardo às 01:06
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