18
Dez 11

 

 

*   *   *

 

CÂNTICO DOS CÂNTAROS

 

Voltando um pouco atrás
à costura das fotografias
àquelas escuridão pulmonar onde te vi
pela primeira vez onde eras
mais que certo quase cavalo
quase branco
a galope nos meus dentes.
Fotografias do tempo em que chamavas
árvore de rapina ao instrumento
que te educava os dedos.
Um dedilhar de amigo
à beira do vinhal.
Um encantar de amigo.

Se te deixasse ficar à sombra
haveria ainda as linhas da tua mão
tão irregulares tão imponderáveis
como a chuva nas boas noites.
Haveria ainda o perfume das grainhas
na primeira curva da manhã.
Era no tempo das fotografias.
Agora, dizes tu, há o orvalho dos murtais
um cesto silencioso e humano.

Nunca saberás que isso a que chamas
silêncio orvalho
eu chamo música
e toco-a.

 

                                    Catarina Nunes de Almeida  (n.1982) 

(do livro «Bailias» - Deriva, 2011)

 

publicado por flordocardo às 20:44
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(Não digo do Natal - digo da nata)
 

Não digo do Natal - digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio

 

nasceu esta semente; mas que invade
esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos

 

por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,

 

e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.

 

                                                   Pedro Tamen (n. 1934)

 

publicado por flordocardo às 01:25
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