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Cá volto ao assunto...
Fazendo publicidade a si mesma, a EDP dizia ser "de todos" (de todos os portugueses, é claro). Desde ontem, porém, a EDP passou a ser da Three Gorges Corporation, ou seja, do Estado chinês. O seu controlo passou da mão "de todos" os portugueses, para a mãos de um Estado, de um regime e de um governo chineses, os quais têm tudo a ver com um capitalismo cada vez mais agressivo e imperial , e nada a ver com o socialismo e o comunismo...
Os accionistas da EDP pronunciaram-se sobre as propostas apresentadas; depois, a Parpública decidiu qual delas era melhor; seguidamente, o Conselho de Ministros adoptou a decisão final.
Veremos o que sucede daqui para a frente com as condições laborais dos trabalhadores da empresa e com os tarifários a cobrar aos consumidores...
Todavia, não estamos perante uma privatização, como é evidente, mas perante um negócio; um negócio com uma empresa estratégica para o nosso país, realizado (e justificado) a pretexto da crise.
Como a crise interessa mais do que o país, eis que o negócio assenta não tanto no valor directo de compra dos 21,35 por cento do capital social da EDP, por quase 2,7 mil milhões de euros, mas fundamentalmente nas contrapartidas aduzidas por acréscimo e que representam, aproximadamente, mais 6 mil milhões de euros. O Estado chinês, muito provavelmente, abrirá bancos em Portugal; por outro lado, comprará títulos da dívida portuguesa, amortizará parte das dívidas da EDP, financiará o BCP, abrirá uma unidade fabril no nosso país e permitirá a instalação de uma outra unidade fabril portuguesa na própria China...
Portanto, ao tomar o controlo da EDP, a China subornou o governo de Passos/Portas com crédito e investimento, ou seja, com dinheiro!
Mas o que ganha o Estado chinês com tal suborno? Uma testa-de-ferro no sector energético (seu enorme Calcanhar de Aquiles...) na Europa, com rumo alargado e garantido aos EUA e ao Brasil - países onde a EDP, como se sabe, tem negócios!
Bem se pode afirmar que o que ganham os chineses, perdem os portugueses...
Talvez nos reste a consolação de que aquilo que agora nos sucedeu irá acontecer igualmente nos restantes países da UE. A China não pode perder «oportunidades de negócio», pois não pode parar, sob pena de colapsar.
Assim, devemos, ou não, estar agradecidos ao governo Passos/Portas por este negócio que, segundo os responsáveis da Three Gorges Corporation, acaba de constituir uma decisão governamental «sábia e justa»?