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Fev 12

 

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Tantas Páginas: O que acha do acordo ortográfico? Acha
mesmo que, como dizem os editores portugueses (e muitos intelectuais), o acordo
foi uma gigantesca maquinação brasileira para permitir que os livros brasileiros
entrem livremente no mercado português e no africano, acabando com a indústria
portuguesa do livro?

Paulo Franchetti: O acordo ortográfico é um aleijão.

Linguisticamente malfeito, politicamente mal pensado,
socialmente mal justificado e finalmente mal implementado. Foi conduzido, aqui
no Brasil, de modo palaciano: a universidade não foi consultada, nem teve
participação nos debates (se é que houve debates além dos que talvez ocorram
durante o chá da tarde na Academia Brasileira de Letras), e o governo
apressadamente o impôs como lei, fazendo com que um acordo para unificar a
ortografia vigorasse apenas aqui, antes de vigorar em Portugal. O resultado foi
uma norma cheia de buracos e defeitos, de eficácia duvidosa. Não sei a quem o
acordo interessa de fato. A ortografia brasileira não será igual à portuguesa.
Nem mesmo, agora, a ortografia em cada um dos países será unificada, pois a
possibilidade de grafias duplas permite inclusive a construção de híbridos. E se
os livros brasileiros não entram em Portugal (e vice-versa) não é por conta da
ortografia, mas de barreiras burocráticas e problemas de câmbio que tornam os
livros ainda mais caros do que já são no país de origem. E duvido que a
ortografia seja uma barreira comercial maior do que a sintaxe e o ai-meu-deus da
colocação pronominal. Mas o acordo interessa, é claro, a gente poderosa. Ou não
teria sido implementado contra tudo e todos. No Brasil, creio que sobretudo
interessa às grandes editoras que publicam dicionários e livros de referência,
bem como didáticos. Se cada casa brasileira que tem um exemplar do Houaiss, por
exemplo, adquirir um novo, dada a obsolescência do que possui, não há dúvida que
haverá benefícios comerciais para a editora e para a Fundação Houaiss – Antonio
Houaiss, como se sabe, foi um dos idealizadores e o maior negociador do acordo.
O mesmo vale para os autores de gramáticas e livros didáticos – entre os quais
se encontram também outros entusiastas da nova ortografia. E não é de espantar
que tenham sido justamente esses – e não os linguistas e filólogos vinculados à
universidade – os que elaboraram o texto e os termos do acordo. Nem vale a pena
referir mais uma vez o custo social de tal negócio: treinamento de docentes,
obsolescência súbita de material didático adquirido pelas famílias, adequação de
programas de computador, cursos necessários para aprender as abstrusas regras do
hífen e outras miuçalhas. De meu ponto de vista, o acordo só interessa a uns
poucos e nada à nação brasileira, como um todo. Já Portugal deu uma prova
inequívoca de fraqueza ao se submeter ao interesse localista brasileiro, apesar
da oposição muito forte de notáveis intelectuais, que, muito mais do que aqui,
argumentaram com brilho contra o texto e os objetivos (ou falta de objetivos
legítimos) do acordo.

 

(extraído do blogue

http://tantaspaginas.wordpress.com)

 

O brasileiro Paulo Franchetti é crítico literário, escritor e professor titular

do Departamento de Teoria Literária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

 

 

publicado por flordocardo às 01:02

 

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Que é feito da “Primavera Árabe”?

 

Fez-me confusão, desde o primeiro momento, o fulgurante alastrar da revolta na Tunísia ao Egipto, à Líbia, ao Iémen e a outros países do norte de África, da Península Arábica e do Próximo Oriente.

As dúvidas que eu tinha começaram a ficar mais claras com o caso da Líbia, ou seja, com a intervenção da NATO naquele país. E desvaneceram-se agora completamente com o caso da Síria.

Todos sabemos o que se passou na Líbia. E todos sabemos que em nenhum país da famigerada “Primavera Árabe” a violência terminou e os respectivos povos gozam agora de liberdade, de democracia e de pão para a boca. As ditaduras existentes nos países em apreço foram sistematicamente substituídas por ditaduras militares directamente controladas pela CIA -  a mesma CIA que terá certamente fomentado, minuciosamente, a “indignação” verificada em tais países. Significativamente, aliás, não se registaram tumultos nem “indignações” na Arábia Saudita ou no Bahreim, por exemplo, países com ditaduras medievais, mas aliados dos EUA…

Neste momento, aliás, é já público que milícias estrangeiras, nomeadamente líbias, estão a actuar na Síria contra o regime de Assad.

 

A manobra

 

Fora isto - que já não é pouco -, eis que os EUA levaram a questão Síria ao Conselho de Segurança da ONU, tentando fazer aprovar uma resolução semelhante à que haviam aprovado contra a Líbia o ano passado. China e Rússia vetaram (por ora?) a resolução. Mas a secretária de Estado Hillary Clinton veio já propor, sem hesitações, a criação de uma coligação de países que, sob a direcção do imperialismo norte-americano e servindo-se da NATO, façam na Síria o mesmo que fizeram na Líbia.

Creio que estamos em presença de uma manobra orquestrada pelo imperialismo ianque contra os governos hostis ou não inteiramente controláveis, com vista ao domínio da zona e à preparação político-militar do ataque ao Irão e, de passagem, à liquidação da justa luta do povo palestiniano.

Porém, uma aventura militar na Síria ou no Irão, à semelhança do que aconteceu na última invasão do Iraque, terá consequências muito sérias para os países agressores, como também as teve no Iraque, que terminou com uma monumental derrota político-militar do imperialismo ianque e seus lacaios.

Por cá, os “patriotas” do costume, com Passos Coelho e Paulo Portas à cabeça, têm apelado à intervenção na Síria, atirando mais uma vez para o lixo o Artº. 7º. da nossa Constituição, que estipula o princípio da não ingerência nos assuntos internos dos outros Estados.

 

A luta

 

Tão ou mais grave tem sido a posição assumida sobre estes assuntos pelo PCP, o BE e o PS, onde vária gente chegou a comparar a “Primavera Árabe” ao 25 de Abril em Portugal… Pois é!...

Devemos denunciar e combater as manobras do imperialismo e exigir a saída imediata de Portugal da NATO, organização que mais uma vez se prepara para ser o instrumento político-militar de uma agressão.

O imperialismo é a guerra, mas, unidos, os povos do mundo podem derrotar o imperialismo norte-americano, o qual se encontra cada vez mais isolado.

Estarei errado?

 

(PS – Convirá ter presente que a Síria, para além de ter saída para o Mar Mediterrâneo (zona do país onde a Rússia dispõe de uma base naval), tem ainda fronteiras com o Líbano, Israel, Turquia, Iraque e Jordânia)

 

publicado por flordocardo às 00:39

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