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(O Senhor que foi à fonte)

O Senhor que foi à fonte

Encontrou um lubizonte

Que se abespinhou com ele…

Foram os dois para um talho

Comer carne de porcalho

E também de um urso reles

Comeram pêlos e peles

E através de um discurso

Ressuscitaram o urso

E o urso deu cabo deles.

                                                    Cristovam Pavia (Portugal, 1933-1968)

(extraído do livro «Resumo - a poesia em 2010» - Assírio & Alvim, Março/2011)

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MARIA FÁCIL

I

A que se deu sem sonhos e sem boda

não há proposta a que não diga sim.

Poisar a mão na sua é tê-la toda.

Conhece encruzilhadas, calaboiços,

mas quebra os olhos mudos num jardim,

faz festas aos meninos pequeninos

que brincam nos baloiços.

II

Tem uma cruz de buxo à cabeceira.

Tem o retrato da mãe.

Tem um livrete negro na carteira.

                                              Nada mais tem.

Maria Fácil, chamam-lhe na rua…

É o «enguiço» da prostituição.

Todos a viram nua,

que, para a verem nua,

paga contribuição.

Quando morrer, dirão na viela:

- "Lá vai Maria Fácil, o «enguiço»…

Que bom caixão para o corpinho dela…"

                                              E não se fala mais nisso

                                                   
                                                          Sidónio Muralha (1920 - 1982)

(do livro «Beco» - 1941)

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O Primeiro-ministro Passos Coelho ouviu hoje assobios e insultos de várias dezenas de manifestantes, onde se incluíam, entre outros, sindicalistas,
elementos de uma comissão de utentes contra as portagens nas auto-estradas da região,  trabalhadores da Peugeot-Citroen e professores. Foi na visita à Feira do Queijo, em Gouveia.

Passos já foi vaiado em Matosinhos, Guimarães e agora em Gouveia. E a coisa não vai parar! O governo está mais isolado do que nunca!

Como alguém diria, «põe-te a fancos, Passos, põe-te a fancos que tens os dias contados!»

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«O homem superior é o que permanece sempre fiel à esperança;

não perseverar é de poltrões.»
                                                                                                                                                                 Eurípedes

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(meter as mãos na terra)

Meter as mãos na terra

até que a água

                       arda

Ter o brilho fugaz do risco

no trilho semeável

                            sob os pés

E conduzir as mãos

                             como um arado lúcido

                                                            
(Parede, 15.01.2012)

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FOME

Escancarar a fome

e comê-la

Como se faz isso de forma audível

imperecível

multiplicável?

E como dar-lhe um nome?

(Lisboa, 03.02.2012)

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O desemprego em Portugal atingiu a taxa de 14 por cento. Temos, oficialmente, mais de 770 mil desempregados. Temos o segundo maior desemprego jovem da Europa. Temos 406 mil desempregados de longa duração (sem emprego há mais de um ano). Eis números nunca vistos.

Porém, o desemprego real atingirá hoje 1 milhão de portugueses!

Eis para onde nos leva a «austeridade», ou seja, a exploração sem limites do Trabalho pelo Capital!

Ousemos lutar!