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(extraído de http://lutapopularonline.blogspot.com )
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A SÍRIA E A BALELA DOS DIREITOS HUMANOS
Se algum país deveria ser mundialmente proibido de falar em direitos humanos, esse país haveria de ser, sem nenhuma espécie de dúvidas, os Estados Unidos da América do Norte.
Para além do racismo com que foram, e ainda hoje o são, tratados os negros, mestiços e hispanos no interior do próprio Estado ianque, não convirá nunca esquecer que os imperialistas americanos mantêm presos na base de Guantânamo, em Cuba, centenas de homens e mulheres capturados pela CIA no Afeganistão, Iraque, Paquistão e outros países do mundo entre os quais a Itália, sem culpa formada, sem tribunal, sem julgamento e sem direito a defesa jurídica.
E também não poderá nunca esquecer-se que os EUA reivindicam para os seus governos o direito de promover o terrorismo de Estado em qualquer país estrangeiro, como aconteceu recentemente no interior de um país aliado, o Paquistão.
Além de que não há nada de mais contrário aos direitos humanos do que a exploração mundial do imperialismo.
O direito humano mais fundamental de todos os direitos é o direito que tem o operário de não ser explorado, mas desse direito o imperialismo e os oportunistas nunca falam, precisamente porque é da exploração dos operários que o imperialismo e os oportunistas vivem.
Pois são estes terroristas dos direitos humanos que, no uso de uma desfaçatez desmedida, acusam de violação desses direitos os países cujos governos não aceitam nem ajoelham às suas ordens.
Viu-se como o imperialismo americano, em nome dos direitos humanos ceifou 150.000 vidas no Iraque, 50.000 vidas na Líbia e agora se prepara, com a introdução de dois exércitos mercenários – o que já utilizou na Líbia e o que lhe organizou a Arábia Saudita – para liquidar mais umas centenas de milhar de sírios.
Os imperialistas americanos, muito embora não tenham conseguido aprovar resolução favorável no conselho de segurança da ONU, há muito que introduziram na Síria uma coluna de mercenários anti-Kadafi e uma coluna da Arábia Saudita, sendo unicamente estas duas colunas de mercenários que mantêm o nível destrutivo das operações a que o exército sírio se vê forçado a ripostar em defesa do seu território, uma parte do qual território permanece ocupado pelo exército sionista de Israel.
Imagine-se a Arábia Saudita, a mais reaccionária e medieval das ditaduras do Golfo, cujo exército interveio há dois meses no Bahreim para esmagar num banho de sangue os insurrectos em nome da Liberdade, a aparecer agora com uma coluna militar na Síria em defesa dos direitos humanos!...
Há sempre uns papalvos em Portugal – do PCP ao Bloco e ao PS, com uns quantos patetas e jornalistas financiados pela CIA – que têm defendido, também em nome dos famigerados direitos humanos, as intervenções do imperialismo americano nos países do Próximo Oriente (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egipto, Bahreim e, agora, a Síria).
A questão é esta e não tem nada a ver com direitos humanos: a Síria é o melhor – para não dizer o único – aliado do Movimento Palestiniano e do Irão na região explosiva do Golfo e do Mediterrâneo oriental. É por isso que a Síria é, neste momento, o principal cenário da guerra do imperialismo americano e dos sionistas israelitas contra o Irão e contra a Palestina.
Os povos do mundo e o movimento operário mundial devem permanecer firmes na sua luta contra o imperialismo ianque e contra a guerra que prepara contra o Irão, contra o povo palestiniano e contra todos os povos do Golfo Pérsico.
Na reunião ontem realizada no Cairo, a Liga Árabe – agora controlada pelos americanos, depois das pretensas insurreições conduzidas pela CIA no norte de África – intensificou as sanções económicas contra a Síria e, de acordo com o comunicado final da cimeira, aprovou uma resolução a solicitar ao conselho permanente da ONU o envio de capacetes azuis para a Síria.
A palavra-de-ordem do imperialismo americano, do sionismo israelita e dos seus lacaios na Liga Árabe é só uma: ocupar imediatamente a Síria, único aliado da Palestina e do Irão no Próximo Oriente.
Nada disso tem nada que ver com direitos humanos, mas apenas com os interesses bélicos do imperialismo e do sionismo.
(extraído de http://lutapopularonline.blogspot.com )
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Vera Pires Coelho, presidente do conselho de Administração da Edifer - um dos potentados do sector da construção civil, com os maiores lucros acumulados no último triénio (2008/2010) -, enviou uma carta a 900 dos seus trabalhadores, anunciando-lhes que não irá pagar os salários e subsídios referentes a Dezembro de 2011.
A Soares da Costa, terceira maior empresa do sector, avisou também que irá despedir de imediato 900 trabalhadores, embora nada tenha dito ainda sobre a questão do pagamento de salários que tem em atraso.
Por outro lado, a FDO, outra das grandes empresas do sector, informou já que não pagará os salários em atraso e que irá despedir 300 trabalhadores.
Tudo isto se passa num sector em que as grandes empresas acumularam lucros gigantescos pelo menos até 2008, sector que, roubando trabalho já prestado pelos trabalhadores e roubando salários que nunca lhes pagou, conseguiu despedir nos últimos três anos 212 mil trabalhadores!
Esta é a consequência imediata do acordo de traição assinado por João Proença, da UGT, no conselho permanente da concertação social, acordo que os comparsas do negócio designaram pelo eufemismo de “compromisso para o crescimento, competitividade e emprego” e que não é outra coisa senão um golpe-de-mão para despedir centenas de milhares de trabalhadores portugueses sem justa causa, sem salários e sem indemnização.
Percebe-se agora muito claramente a razão pela qual um tal Ricardo António Pedrosa Gomes, presidente da FEPICOP (Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas), pediu recentemente ao governo PSD/CDS-PP a reestruturação do sector…
Os operários e trabalhadores da construção civil e obras públicas devem exigir aos seus sindicatos a organização da luta contra os despedimentos e o roubo do trabalho e de salários neste sector.
Deve ser marcada uma greve geral nacional para o próprio dia em que a Assembleia da República votar as alterações ao Código de Trabalho resultantes do acordo de traição assinado por João Proença. Esta é a correcta e imediata forma de luta a desencadear por um sector que está a ser liquidado em consequência da política do governo de traição PSD/CDS-PP.
(PS - ver também o post Manifesto dos Cem Mil, de 10 do corrente)
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De visita a Lisboa, Norbert Lammert, presidente do parlamento alemão, afirmou que os parlamentares do seu país acompanham com interesse a situação de Portugal e que estão «impressionados», não só por «termos acordos e pactos negociados, como esses acordos estarem a ser implementados».
E, mais adiante, acrescentou: «Podemos ver que houve desenvolvimentos muito diferentes em Estados-membros diferentes. Nesse sentido, concordo com o que se disse que Schäuble disse: se há desenvolvimentos diferentes estamos a lidar com situações diferentes.»
Ora, em primeiro lugar, é preciso dizer que há «acordos», como o da concertação social, que ainda não passaram pela nossa Assembleia da República – muito embora seja verdade que o patronato esteja já a meter o carro à frente dos bois nesta matéria… Por outro lado, não me faz nenhuma impressão que o sr. Lammert faça parte dos «impressionados», uma vez que a sua visita de dois dias a Portugal não visa outra coisa que não seja impressionar papalvos, dando uma ajudinha a Passos Coelho e ao seu governo de traição nacional…
Em segundo lugar, importa dizer que o sr. Lammert descobriu em Lisboa um verdadeiro Ovo de Colombo… Descobriu que o desenvolvimento dos países da UE é desigual, pelo que as medidas a aplicar contra a crise não podem ser iguais…
É obra! É obra o sr. Lammert “descobrir” algo que já se sabe há mais de um século: que o desenvolvimento do capitalismo se processa no mundo de forma desigual!
Seja como for, mais que não seja por uma questão de cortesia, parabéns, sr. Lammert!
E amanhã não se esqueça de desejar um bom trabalho aos seus amigos da troika!
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POEMAS
Venham ver sob que luzes surgem os poemas,
em que leitos navegam as palavras desabridas.
Venham ver a força desta corrente na rebentação da névoa.
Se entre as duas margens conseguirem avistar o que se esconde na neblina,
então vejam como tudo baila sem que um único músculo se mova.
Henrique Fialho (n. 1974)
(do livro «Estranhas criaturas» – Deriva, Porto/2010)
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Por mais sondagens estapafúrdias que uns quantos façam, tenho para mim que o «estado de graça» do governo acabou em definitivo. Digo até mais: este executivo encontra-se completamente isolado perante o povo trabalhador português!
Têm reparado bem nos esgares faciais de Passos Coelho, de Miguel Relvas, de Álvaro Santos Pereira?... Mostram aqueles sinais claros que caracterizam os animais acossados perante um perigo mais ou menos indistinto, mas quase tacteável.
A luta dos trabalhadores da TAP, da Cerâmica de Valadares, dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, da SOREL, da FDO, por exemplo, elucida-nos bem sobre a crescente vontade combativa de quem vive exclusivamente do seu trabalho; espelha o seu desejo de luta, cada vez mais firme, contra a exploração e opressão do Capital.
A manifestação ocorrida neste último sábado, em Lisboa, voltou a demonstrar claramente a existência dessa combatividade crescente e de repúdio contra a política do governo PSD/CDS-PP e da troika.
Com efeito, o Terreiro do Paço albergou no sábado quase 300 mil homens e mulheres em protesto contra o actual governo de traição nacional e a troika imperialista. Mas tenho para mim que este mar de jovens, de reformados, de operários, de empregados, de agricultores, de desempregados não merecia ouvir da boca de Arménio Carlos – o novo secretário-geral da CGTP – a defesa de que temos de produzir para pagar a dívida… E que, para tanto, nos devem deixar respirar…
Como é isto?! Afinal, na óptica da direcção da CGTP, temos que pagar com língua de palmo uma dívida que não contraímos?!
Arménio Carlos portou-se como um operário, dos politicamente mais recuados, que se volta para o patrão e lhe diz: eu pago as suas dívidas, mas você tem que me dar mais tempo e, eventualmente, condições menos severas…
Afinal, estamos numa fase de recrudescimento das condições revolucionárias, objectivas e subjectivas, ou de auge da contra-revolução? Em que pé estamos? Creio que estamos numa fase em que a revolução começa a ganhar uma força crescente (em Portugal e não só).
Arménio Carlos e seus pares têm que ir rapidamente ao oculista!
É necessário convocar uma nova Greve Geral Nacional contra o “acordo” de concertação social, pelo repúdio da dívida, contra o governo lacaio da troika imperialista e por um governo efectivamente democrático e patriótico!
Tudo o mais não passa de uma treta e de uma traição aos sentimentos e aspirações dos trabalhadores deste país!
(PS - É óbvio, meus caros amigos, que o sr. Seguro não tem opinião nenhuma sobre tudo isto...)
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Tantas Páginas: O que acha do acordo ortográfico? Acha
mesmo que, como dizem os editores portugueses (e muitos intelectuais), o acordo
foi uma gigantesca maquinação brasileira para permitir que os livros brasileiros
entrem livremente no mercado português e no africano, acabando com a indústria
portuguesa do livro?
Paulo Franchetti: O acordo ortográfico é um aleijão.
Linguisticamente malfeito, politicamente mal pensado,
socialmente mal justificado e finalmente mal implementado. Foi conduzido, aqui
no Brasil, de modo palaciano: a universidade não foi consultada, nem teve
participação nos debates (se é que houve debates além dos que talvez ocorram
durante o chá da tarde na Academia Brasileira de Letras), e o governo
apressadamente o impôs como lei, fazendo com que um acordo para unificar a
ortografia vigorasse apenas aqui, antes de vigorar em Portugal. O resultado foi
uma norma cheia de buracos e defeitos, de eficácia duvidosa. Não sei a quem o
acordo interessa de fato. A ortografia brasileira não será igual à portuguesa.
Nem mesmo, agora, a ortografia em cada um dos países será unificada, pois a
possibilidade de grafias duplas permite inclusive a construção de híbridos. E se
os livros brasileiros não entram em Portugal (e vice-versa) não é por conta da
ortografia, mas de barreiras burocráticas e problemas de câmbio que tornam os
livros ainda mais caros do que já são no país de origem. E duvido que a
ortografia seja uma barreira comercial maior do que a sintaxe e o ai-meu-deus da
colocação pronominal. Mas o acordo interessa, é claro, a gente poderosa. Ou não
teria sido implementado contra tudo e todos. No Brasil, creio que sobretudo
interessa às grandes editoras que publicam dicionários e livros de referência,
bem como didáticos. Se cada casa brasileira que tem um exemplar do Houaiss, por
exemplo, adquirir um novo, dada a obsolescência do que possui, não há dúvida que
haverá benefícios comerciais para a editora e para a Fundação Houaiss – Antonio
Houaiss, como se sabe, foi um dos idealizadores e o maior negociador do acordo.
O mesmo vale para os autores de gramáticas e livros didáticos – entre os quais
se encontram também outros entusiastas da nova ortografia. E não é de espantar
que tenham sido justamente esses – e não os linguistas e filólogos vinculados à
universidade – os que elaboraram o texto e os termos do acordo. Nem vale a pena
referir mais uma vez o custo social de tal negócio: treinamento de docentes,
obsolescência súbita de material didático adquirido pelas famílias, adequação de
programas de computador, cursos necessários para aprender as abstrusas regras do
hífen e outras miuçalhas. De meu ponto de vista, o acordo só interessa a uns
poucos e nada à nação brasileira, como um todo. Já Portugal deu uma prova
inequívoca de fraqueza ao se submeter ao interesse localista brasileiro, apesar
da oposição muito forte de notáveis intelectuais, que, muito mais do que aqui,
argumentaram com brilho contra o texto e os objetivos (ou falta de objetivos
legítimos) do acordo.
(extraído do blogue
http://tantaspaginas.wordpress.com)
O brasileiro Paulo Franchetti é crítico literário, escritor e professor titular
do Departamento de Teoria Literária da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).